sexta-feira, 26 de outubro de 2012

TOCA A MARCHAR



25 de Outubro de 2012

49 – TOCA A MARCHAR

As tropas estão todas desalinhadas. Dona Suzete segue atrás dos escaravelhos e fareja os locais por onde os três amigos acabaram de passar. A aranha é meticulosa e não aprecia desorganização.
O coronel-sapo não entende como foi possível o João Miguel e o Renato terem escapado dos dentes afiados de Dom Raimundo. Tinha estudado a estratégia ao pormenor, tudo preparado na perfeição para os capturar, mas eles conseguiram fugir da boca do jacaré num golpe de sorte.
O macaco Isidoro dá saltos e piruetas, berra e esbraceja com excitação, rodopia e bate com os punhos no chão, assustando o Medina. O gato-guarda fica logo com o pelo eriçado. Está nervoso com a situação e põe as unhas de fora, com vontade de as usar. Segura na lança afiada, aponta-a em frente e segue disparado atrás da aranha branca e dos escaravelhos.
O coelho Belchior vira-se para o coronel-sapo e começa a cantar:

Um, dois, três, quatro, o exército enganado
Cinco, seis, sete, oito, não pode ficar parado
Nove, dez, onze, doze, vai seguir para aquele lado

Um, dois, três, quatro, as ordens do Mestre Tino
Cinco, seis, sete, oito, são para prender o menino
Nove, dez, onze, doze, cumpra-se esse destino

Mande pular os soldados
Faça calar o ministro
Os sapos estão irritados
Com o macaco sinistro

Só um sapo caçador
Sabe como é importante
Para o Tino ditador
Apanhar o Visitante

O Medina foi-se embora
A aranha já partiu
É chegada a nossa hora
De marchar com muito brio

Para o menino prender
Vamos saltar na floresta
Sabemos o que fazer
Vai ser uma grande festa

Okatonga transforma-se.
A floresta pacífica é invadida por centenas de escaravelhos velozes que avançam, às cegas, por entre a vegetação. Dona Susete segue-os numa solta correria, bisbilhotando os trilhos, olhando para todos os recantos. A aranha branca marca zonas especiais com teias finas, e prepara armadilhas com teias mais resistentes.
O Medina corre muito depressa, de lança erguida, como se o mundo fosse acabar. Afasta e corta a vegetação que lhe surge à frente, salta de galho em galho, de tronco em tronco e de raiz em raiz, numa algazarra descabida.
Os soldados-sapo marcham e pulam pela floresta, como se estivessem numa festa, fazendo um enorme alarido. Deixam um rasto de destruição atrás deles que ainda fica pior com as manobras desenfreadas e quase alucinadas do Isidoro, que não se consegue acalmar.
Belchior e o coronel-sapo marcham com as tropas, fazendo um ar muito compenetrado.
O ministro distribui pontapés e socos em tudo o que encontra no caminho, e faz tudo isso lançando berros estridentes. Os pássaros levantam voo à sua passagem e o céu cobre-se com bandos de inúmeras espécies.
Em Okatonga nunca tinha acontecido nada assim.

- OLHEM PARA O CÉU! Estão a ver? São milhares e milhares de pássaros a juntarem-se aos bandos! O que será que está a acontecer? – pergunta João Miguel muito admirado.
E os olhos vermelhos do sapo Renato voltam a faiscar como quando estavam dentro da boca de Dom Raimundo.
- AI MINHA RICA MÃEZINHA!

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