segunda-feira, 30 de abril de 2012

CURATIVO


29 de Abril de 2012





8 – CURATIVO


O João Miguel fica muito estranho vestido de pijama e calçado com botas negras. Estas não são as roupas de um explorador. Esmeralda, contudo, parece ter outra opinião:
- Perfeito! Agora sim, estás pronto para explorar a floresta! As botas protegem-te os pés e as canelas. Já podes correr e saltar, já podes atravessar os riachos e as cascatas, avançar pela densa vegetação de Okatonga, visitar o quartel-general dos soldados-sapo… e até acompanhar o veloz coelho Belchior. Vais conseguir fazer tudo isso, e muito mais.
O menino não tem assim tantas certezas. Afinal de contas, continua sem saber onde está e não descobre pistas em nenhum lugar. Não existe nenhuma indicação sobre qual o caminho a seguir. Esmeralda tem de o ajudar. Só mesmo ela lhe pode dar informações acerca da floresta, da vila de Zebedeu, da direção a escolher para lá chegar. E o João Miguel pede-lhe auxílio:
- Tens de me ajudar! Eu não sei nada acerca de Okatonga. Esta é a minha primeira visita, sinto-me perdido no meio desta floresta, e apesar de já ter umas botas novas, ainda me doem muito os pés.
A minúscula menina sorri enquanto o escuta. Depois corre muito depressa para junto da sequoia e desaparece, misteriosamente, durante alguns segundos. Passado esse instante, reaparece tão misteriosamente como tinha desaparecido. Nas mãos traz um frasco de vidro colorido, que quase deixa cair, com um líquido escuro no interior. É grande demais para ela e sente dificuldade em transportá-lo.
- Ajuda-me João Miguel! Fui buscar este bálsamo que te vai sarar os pés num abrir e fechar de olhos. Anda lá, ajuda-me, não vês que o frasco é quase do meu tamanho?
O menino baixou-se, agarrou o recipiente de vidro castanho que está fechado por uma pequena rolha de cortiça idêntica às das garrafas de champanhe. Lá dentro mora um líquido muito escuro de aparência viscosa. O frasco é velho, tem forma cilíndrica e está meio cheio. Talvez estivesse guardado debaixo do chão pois tem terra seca colada ao vidro.
- O que é isto, Esmeralda? Não me digas que é uma das famosas poções do anão Zebedeu?
A menina coloca o indicador direito na frente da sua boca pequenina enquanto faz uma cara muito séria.
- SHIUUUUU!!! Fala baixo! Não se pode dizer esse nome assim tão alto. Alguém nos pode escutar. As poções de Zeb…., desse que tu bem sabes, são cada vez mais raras e valiosas. Devemos ter muito cuidado, mesmo muito cuidado. Se alguém vier a saber da existência deste frasco, tudo ficará bem mais perigoso para nós, mas especialmente para mim.
O João Miguel mostra-se admirado com as palavras de Esmeralda e pergunta-lhe baixinho:
- O que é que eu faço com o isto?
E a menina responde em surdina:
- Abres o frasco, deitas três gotas do líquido para dentro de cada uma das botas, com todo o cuidado. Nem mais, nem menos! Três gotas serão suficientes para que os teus pés fiquem como novos. Mas despacha-te, pois temos de sair daqui rapidamente.
E o menino assim faz. Abre o frasco com todo o cuidado, vira o gargalo na direção do cano alto das botas, que alarga ligeiramente, e verte uma, duas, três gotas do líquido lá para dentro. Faz o mesmo para a bota do pé esquerdo. Verte uma, duas, três gotas de líquido para o seu interior.
- Já está! E agora?
Esmeralda pega no frasco, fecha-o, corre conforme pode para junto da sequoia e desaparece tão misteriosamente como tinha aparecido.
- Esmeralda! Esmeralda! Onde estás?? Esmeralda… não me deixes aqui sozinho! Ajuda-me! Não sei onde estou nem para onde ir. Esmeralda!
Mas Esmeralda não responde, nem volta a aparecer. João Miguel dá voltas e mais voltas ao redor da grande árvore, escava, escava, e volta a escavar… mas nada. Não encontra nenhum sinal da sua existência. Fica cansado de tanto procurar e acaba por desistir.
Subitamente, saltando vindo não se sabe de onde, o veloz Belchior aparece, agarra na caixa branca vazia, na tampa e no laçarote e volta a saltitar pelo interior de Okatonga ao som desta nova canção:

- Um, dois, três, quatro, semeada na floresta
Cinco, seis, sete, oito, uma flor muito funesta
            Nove, dez, onze, doze, com perfume de giesta

  Um, dois, três, quatro, semeada nesta banca
Cinco, seis, sete, oito, uma caixa de cor branca
            Nove, dez, onze, doze, com perfume de tamanca

  Um, dois, três, quatro, vem agora atrás de mim
Cinco, seis, sete, oito, se quiseres comer pudim
            Nove, dez, onze, doze, na festa do meu jardim

Sem pensar duas vezes, o João Miguel arranca em perseguição do coelho Belchior. Desta vez, não pode deixá-lo escapar. O animal salta e corre e avança como um louco pela floresta dentro. A sua velocidade é tanta que mesmo com botas novas e de pés sarados é difícil acompanhá-lo.
- Um, dois, três, quatro, vem agora atrás de mim
Cinco, seis, sete, oito, se quiseres comer pudim
            Nove, dez, onze, doze, na festa do meu jardim
A voz do coelho começa a soar cada vez mais ao longe, no interior escuro de Okatonga, mas o menino jura que não vai desistir. Desta vez o rápido Belchior não vai conseguir escapar. Mesmo cansado de tanta correria, mesmo ferido nas suas coxas, nos seus braços e nas mãos, mesmo sem saber onde vai cair cada passo seu, mesmo sem saber para onde está a levá-lo o peludo e cinzento Belchior, o João Miguel não para de correr. Cada vez é mais açoitado pelos galhos e ramos das árvores, pelas silvas e cardos, cada vez é mais maltratado pela densa vegetação e pelos insetos que entretanto acordaram. As suas bochechas também já estão feridas com pequenos cortes provocados por sarças afiadas. Mas nem assim o menino desiste ou abranda. Ele sabe que pior do que ficar com todas estas feridas, será ficar de novo sozinho, perdido na floresta. Belchior é agora a única hipótese que tem para saber para onde ir.
Belchior pode ser rápido, pode saltar, pode pular e avançar a toda a velocidade, mas desta vez não lhe irá conseguir escapar.

- Um, dois, três, quatro, semeada no jardim
Cinco, seis, sete, oito, uma flor de carmesim
            Nove, dez, onze, doze, com perfume de jasmim

. Um, dois, três, quatro, já chegámos finalmente
Cinco, seis, sete, oito, meu honrado presidente
            Nove, dez, onze, doze, eis a caixa do presente

. Um, dois, três, quatro, está aqui o Visitante
Cinco, seis, sete, oito, este menino importante
            Nove, dez, onze, doze, corre mais do que o Gigante

Sem o menino ter dado conta, a floresta abriu-se dando lugar a uma imensa clareira.
E o inimaginável espreguiça-se agora à frente dos olhos de João Miguel.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

ESMERALDA


27 de Abril de 2012



7 – ESMERALDA


Belchior é um coelho veloz.
Salta com tanta rapidez que o João Miguel acaba por perdê-lo de vista. Estar descalço também não ajuda. A floresta, afinal, é húmida e sombria, é desconfortável e até um pouco assustadora. Mas o menino não desiste. Escuta os barulhos que Belchior faz ao penetrar na floresta, segue as marcas de ramos quebrados e folhagens pisadas e descobre os lugares por onde ele passou. Continua corajoso a desvendar o caminho. O pior de tudo, são os seus pés. Estão feridos e não consegue correr. Decide abrandar o ritmo da perseguição e para junto a um velho pedaço de tronco abandonado. Sentado, olha para as calças de pijama rasgadas e para os pés maltratados.
- Bolas! Mas que coelho maluco! Convidou-me para o seguir e depois fugiu sem me dar qualquer pista. E acabei de estragar o pijama que a avó Dulce me ofereceu. Vai ficar muito zangada. Doem-me os pés. Seria bom encontrar um pouco de água para os lavar.
- Porque não abres o presente? – pergunta alguém com uma voz que se escuta junto a uma imensa sequoia. – Vá lá, abre o presente! Não tens curiosidade em saber o que os sapos te ofereceram?
O menino roda a cabeça em todas as direções, tentando descobrir a dona desta voz. Levanta-se, dá quatro passos em frente, olha para a grande árvore, olha para cima e para baixo, olha junto ao solo, olha por detrás dela, olha para dentro dela, olha, volta a olhar e… nada!
- Anda lá, vem abrir o teu presente! Quero saber o que te ofereceram os sapos.
O João Miguel volta para junto da caixa branca. Ao lado dela está uma menina muito pequena, tão pequena que a cabeça não chega sequer à tampa do presente. Ela mexe na caixa, bate-lhe com as mãos minúsculas, procura por ruídos que possam dar pistas sobre o que ali se esconde.
- Tu sabes o que está dentro da caixa? Deve ser coisa importante! Já viste bem o tamanho do presente?
O João Miguel continuava admirado com a minúscula menina. Nunca tinha visto nada assim. O seu corpo é pequeno mas as proporções são as corretas. Não é uma menina anã, é uma menina como ele só que muitíssimo mais pequena.
Olá, eu sou o João Miguel! E tu? Como te chamas?
A menina responde enquanto empurra a caixa do presente.
- Chamo-me Esmeralda! Gostava mesmo muito que tu abrisses a prenda. Sou curiosa e fico irritada, mesmo muito irritada quando não me fazem as vontades. Se queres a minha ajuda, tens de abrir o presente. E despacha-te que eu tenho outras coisas para fazer!
As mãos do menino começaram a desfazer o grande laçarote branco que enfeitava a caixa da mesma cor. Esmeralda dá conta das duas marcas vermelhas que estão pintadas na tampa do presente.
- Olha! Alguém se magoou? Estão aqui marcas de sangue. Não gosto nada disto, é mau sinal. Na nossa floresta vivem seres que não podem cheirar sangue, principalmente se for de noite. São perigosos e devemos ter o máximo cuidado! Deves ser muito corajoso para passeares por aqui, e ainda por cima sozinho.
O João Miguel responde calmamente:
- Eu não estava sozinho. Um coelho chamado Belchior acordou-me com uma estranha canção. Disse que a gruta podia desabar e fez-me sinais para eu o seguir. Consegui acompanhá-lo nos primeiros quilómetros, mas depois foi mais difícil. Ele salta muito depressa, os pés começaram-me a doer e parei para descansar. Foi assim que aqui cheguei.
Os olhos da menina brilham ao escutar estas palavras.
- Tu não me digas que vieste atrás do coelho Belchior? A sério? Mas que menino corajoso! Agora CHEGA DE CONVERSA! Abre o presente, vá! Abre o presente dos soldados sapo!
E o João Miguel, que já tinha desfeito o laço, abriu a tampa. Levantou a caixa e olhou para o seu interior.
- Então? O que é que está aí dentro? – pergunta a irrequieta Esmeralda.
Nas mãos do menino estão umas botas militares bem engraxadas, negras, robustas, de solas grossas com um cano alto, em couro, atravessado por fortes atacadores. As botas têm um aspeto muito resistente.
Esmeralda começa a rir à gargalhada assim que as botas foram tiradas da embalagem.
- HA, HA, HA, que engraçado!! Mas que engraçado! Isto tem realmente muita graça!
João Miguel não entende o motivo da risota.
- O que foi? São apenas umas botas da tropa. É por isto que tanto te ris?
E Esmeralda explica:
- Claro! Tem muita piada! Então não percebes que andaste este tempo todo a correr descalço pela floresta, a ferir os pés, as canelas e os joelhos, a perseguir o Belchior feito um doido, e tinhas este presente debaixo do braço? Um presente que, sem motivo, tu ainda não tinhas aberto. Um presente que, afinal, te tinha sido útil na perseguição. É de morrer a rir!! Não achas?
O João Miguel acabou por dar razão a Esmeralda e os dois riem-se da situação.
- Tens razão. Não sei porque não abri logo o presente, eu que sou tão curioso. Lembro-me que estava cansado e adormeci sem o abrir. Quando acordei, tinha o Belchior aos berros perto de mim. Só tive tempo de agarrar a caixa e correr atrás dele. Mas agora as botas vão ser muito úteis para explorar os segredos de Okatonga.
E sem perderem tempo, a Esmeralda ajuda o João Miguel a calçá-las e a dar dois nós bem apertados com os resistentes atacadores.

BELCHIOR


24 de Abril de 2012


6 – BELCHIOR


- Um, dois, três, quatro, semeada no jardim
Cinco, seis, sete, oito, uma flor carmesim
            Nove, dez, onze, doze, com perfume de jasmim

  Um, dois, três, quatro, semeada no quintal
Cinco, seis, sete, oito, uma flor do olival
            Nove, dez, onze, doze, com perfume outonal

. Um, dois, três, quatro, semeada na planura
Cinco, seis, sete, oito, uma flor cor de doçura
            Nove, dez, onze, doze, com perfume de aventura

. Um, dois, três, quatro, semeadas pelo campo
Cinco, seis, sete, oito, as flores cor de sarampo
            Nove, dez, onze, doze, brilham como o pirilampo

. Um, dois, três, quatro, semeada neste vale
Cinco, seis, sete, oito, uma flor perdeu o caule
            Nove, dez, onze, doze, foi parar ao hospital

. Um, dois, três, quatro, está na hora de saltar
Cinco, seis, sete, oito, temos tanto para andar
            Nove, dez, onze, doze, antes do dia acordar

E foi assim, com esta estranha ladainha, que um grande coelho cinzento despertou o João Miguel.
Muito ensonado, sem saber se estava a sonhar, olhou para o animal que o aguardava sorridente.

- Olá! Está na hora de acordar! O meu nome é Belchior. Estou aqui para te ajudar…

mas antes que tu perguntes
dou-te uma informação
eu falo sempre a rimar
por causa da tradição

anões, sapos e coelhos
bruxas, florestas e espelhos
foi o que tu desejaste
nesta história que não leste

é hora de levantar
precisamos de fugir
antes do sol acordar
e esta gruta ruir

O João Miguel só teve tempo para pegar na caixa branca pois Belchior já saltitava veloz na direção de Okatonga. O coelho fazia muitos gestos e sinais para que ele o seguisse.
- Espera, espera por mim Belchior! Não saltes assim tão depressa… espera por mim!
Foi assim, desta maneira acelerada e quase sem dar por isso, que o João Miguel se aventurou pela escura e gigantesca floresta de Okatonga.

ESQUECIMENTO


22 de Abril de 2012


5 – ESQUECIMENTO


As árvores, mais altas do que alguns prédios, tocam-se nas copas protegendo o interior da floresta. Passaram a ser a única companhia do João Miguel, juntamente com a lua e as estrelas.
A caixa branca está enfeitada com uma bonita fita da mesma cor, atada num laço que suspira pelos dedos finos do menino. O que será que os sapos lhe trouxeram de presente? O que será que esconde a escura floresta?
- Tenho de ganhar coragem e avançar pela passadeira brilhante de relva que os sapos me estenderam. É melhor aproveitar. Quem sabe se não será esta a única maneira de conseguir chegar ao interior de Okatonga.
E sem mais demora, o João Miguel seguiu pela passadeira verde que se encontrava impecavelmente aparada. Mal deu os primeiros passos dentro da floresta, um silêncio raro tomou conta de si e a passadeira começou a encolher, começou a ficar cada vez mais estreita, tão estreita como a largura dos seus pés.
- Oh! Que cabeça a minha! Esqueci-me do presente! Tenho de voltar atrás... Como foi possível esquecer-me do presente?
Quando se virou para regressar, o tapete verde encolheu ainda mais, encolheu tanto que só restava uma finíssima e brilhante risca verde que ele seguiu sempre a correr. Ao fazê-lo, perdeu os confortáveis chinelos de peluche. Não abrandou. Chegou ao ponto de partida no exato momento em que a risca de verde desapareceu por completo. Está cansado pela corrida, assustado com o desaparecimento da estrada de relva e triste por ter deixado os seus chinelos favoritos algures na floresta. O João Miguel começa a duvidar se esta será, de verdade, a floresta da história da mãe. A primeira excursão por Okatonga não correu nada bem. A floresta é escura, imponente, silenciosa e parece não gostar de intrusos. E o que terá feito desaparecer a bela estrada de relva? Se não se tivesse esquecido do presente, não teria regressado e estaria agora perdido no interior de Okatonga, no escuro, no meio daquele silêncio e de madrugada. Isso não seria lá muito bonito!
- Bolas! Mas que chatice! Estou descalço. Assim não vou conseguir explorar a grande floresta. Sem chinelos, nada feito! É tão escura e tão silenciosa, e não é nada simpática.
O João Miguel tinha-se cortado, sem perceber, numa das muitas silvas que pisou ao regressar. Duas gotas de sangue caem em cima do presente branco que ainda permanece por abrir.
Cansado, o menino acaba por adormecer junto à caixa branca recordando os confortáveis chinelos de peluche.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

CORONEL - SAPO



20 de ABRIL 2012




4 – CORONEL – SAPO


João Miguel ainda mal acredita no que lhe está a acontecer. Estava deitado na sua cama há apenas cinco minutos. Foi a sua curiosidade que o transportou até Okatonga onde a floresta começou a chamá-lo. Terá de procurar a vila onde habitava Zebedeu. Para que isso aconteça, tem de perder esta espécie de nervoso miudinho que começa a tomar conta de si e tem de se aventurar pelo interior da floresta.
O menino salta por cima de uma rocha perto da saída da gruta e desce por um caminho desenhado pelos passos dos muitos viajantes que por aqui já andaram. Apesar de ser noite, o céu em Okatonga brilha com a luz de milhares de estrelas e com o brilho alaranjado da imensa lua cheia que passeia por cima da floresta.
- Olá João Miguel! Estávamos à tua espera e tu nunca mais chegavas. Sê bem-vindo a Okatonga e à sua famosa floresta perdida.
O pequeno não entende de onde vem esta voz que lhe soa de todos os lados. É como se as árvores possuíssem altifalantes.
- Olá! Mas quem és tu? Onde estás? De onde me falas? A tua voz parece sair das árvores e da montanha e até do céu!
À entrada da floresta iluminou-se um longo tapete de relva, impecavelmente aparada, que indica um rumo a seguir. Em cima dele, alinhados, estão mais de duzentos sapos coloridos de olhos esbugalhados. Esperavam por João Miguel, sabiam que o menino curioso apareceria por aqui. O coronel-sapo tinha preparado as tropas e deslocaram-se rapidamente até a entrada da floresta de Okatonga. Depois, deu ordens para apararem cuidadosamente a passadeira de relva fresca para receber o ilustre visitante. Deu ainda instruções a quatro soldados-sapo para carregar às costas uma caixa com um presente que o ajudará na exploração das mais inóspitas zonas da floresta.
O coronel-sapo avança, acompanhado dos sargentos, para junto do João Miguel. Ele está encantado por ver todos estes sapos coloridos tão perto de si.
- UAU! Que maravilha! Tão giros! Estar a viver a história da mãe é muito mais fixe do que apenas escutá-la antes de adormecer. A mãe sabe contá-la como ninguém. Eu aprecio-a muito e gosto de ficar a imaginar todas estas coisas mas… estar aqui, mesmo aqui, dentro da história, assim mesmo AO VIVO, é brutal!
Os mais de duzentos sapos voltam a dar as boas vindas ao menino de pijama.
- Olá João Miguel! Estávamos à tua espera e tu nunca mais chegavas. Sê bem-vindo a Okatonga e à sua famosa floresta perdida.
Todos os sapos o saúdam enquanto o coronel se prepara para discursar.
- Hmm, Hmm… Ao nosso ilustre visitante, a todos os animais de Okatonga, a todos os habitantes da montanha, das grutas e da orla da floresta, a todos os insetos visíveis e invisíveis, a todas as pedras, seixos, ervas, ramos, troncos, folhagens, e a todos os demais que nos escutam e que não referi, a todos, muito boa-noite! Esta é uma data que ficará, para sempre, na história do nosso país. É com grande alegria que recebemos o Visitante! Como todos sabem, é ao Visitante que devemos a nossa existência. Ele pediu à sua mãe uma história onde aparecessem sapos coloridos e, obedecendo a essa sua vontade, aqui estamos nós para lhe agradecer. Obrigado, Visitante, por tanto nos teres desejado! É uma honra para nós, uma grande honra, e este dia especial ficará eternamente marcado na história de Okatonga! Tenho dito!
E uma chuva de aplausos ecoou pela floresta após as palavras do coronel-sapo. Por muito tempo se deram vivas e gritaram palavras de incentivo e agradecimento ao famoso Visitante, que ainda mal percebe o que aqui se está a passar.
- Mas… mas, como? Não entendo? Eu? Mas… o que é que foi só por causa do meu desejo? O quê? O que é que eu tenho… eu queria uns sapos coloridos na história da mãe, lá isso é verdade mas, não me digam que é por isso que vocês aqui estão? Isso é coisa de malucos! Não pode ser verdade o que dizem. Vocês não podem estar aqui só porque eu pedi uma história com sapos coloridos à mãe.
- É claro que pode Visitante! – respondeu o coronel-sapo – A tua vontade deu origem a este exército, deu origem aos sargentos e à minha pessoa. Essa é a pura das verdades! É uma evidência evidente, uma verdade verdadeira! É uma real realidade, algo impossível de negar pois, como vês, aqui estamos! Se aqui estamos é porque se trata de uma evidência evidente, nem mais nem menos! É isso mesmo. Uma evidência evidente. Tenho dito!
Os soldados-sapo e os sargentos reforçam as palavras do coronel.
- É uma evidência evidente, uma real realidade! Nada nem ninguém o pode negar. Temos dito!
Acabadas as palavras, os quatro soldados-sapo saíram da formatura com a caixa branca de cartão às costas. O presente foi entregue ao coronel que depois o deu ao João Miguel. Seguindo ordens, os soldados-sapo regressam à posição inicial enquanto o menino olha perplexo para o cubo branco de cartão que foi depositado junto aos pés.
- Visitante! Este é um presente para ti. Será fundamental para o teu passeio por Okatonga. Esperamos que gostes e, até breve!
E com estas palavras, desapareceram todos aos saltos, num abrir e fechar de olhos, para o mesmo local escuro de onde há bem pouco tinham aparecido.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

DESPENSA


16 de ABRIL 2012




3 – DESPENSA

- E agora é hora de dormir! Adeus meu querido, dorme bem e até amanhã.
Os olhos do João Miguel continuaram bem abertos. A história despertou-lhe a atenção e mal a mãe apagou a luz do quarto, pôs-se a imaginar como seria Okatonga e a casa de Zebedeu, como seria a paisagem e os rios, o monte, a gruta e a chegada à floresta. Imagina a vila onde o anão alquimista vivia antes de se esconder na zona mais sombria da floresta, imagina a cara e as vestes do anão, imagina o quarto de banho, o seu imenso espelho, as cores e as formas dos frascos onde guarda as poções. O João Miguel não consegue adormecer. Prometeu à mãe não fugir para o seu quarto, mas não lhe tinha prometido ficar quieto. O rapaz vai tentar encontrar o famoso saco invisível das histórias. Ele sabe que a mãe o guarda lá em baixo algures na despensa da cozinha. É de lá que lhe escuta os ruídos sempre que ela desce para lhe ir buscar uma nova história. Só pode mesmo ser aí, até porque a garagem não cheira lá muito bem e está cheia de aranhas. A mãe tem pavor de aranhas e por isso não se atreveria a guardar o saco invisível na garagem.
Pé ante pé, saiu do quarto para o corredor e avançou silenciosamente até às escadas. Desceu sem barulho para o piso inferior e deslocou-se para a cozinha. Parou em frente à porta da despensa onde permaneceu por um minuto a reflectir. Ele sabe que a mãe não aprecia a sua teimosia e que ficará furiosa se o descobrir. Esta já não é a primeira nem a segunda vez que o menino tenta encontrar o esconderijo do saco invisível. Nas duas excursões anteriores não o conseguiu descobrir mas, desta vez, o coração bate tão depressa que parece dizer-lhe ser hoje a noite de todas as descobertas.
Abriu a porta.
As histórias parecem gritar dentro da despensa.
O minuto tinha passado e as prateleiras brancas dão-lhe as boas-noites. No escuro, os pacotes de arroz, massas, açúcar e leite parecem soldados bem alinhados. A sua mãe é metódica e organizada. A arrumação dos mantimentos obedece a rituais quase tão secretos e misteriosos como a própria localização do saco invisível. É hoje que vai arranjar finalmente coragem para subir aquele pequeno escadote que o ajudará a alcançar a mais alta das prateleiras. Deve ser ali, bem lá no alto, que a mãe guardou o saco, só pode mesmo ser ali.
- É hoje! Nada me vai impedir de ver o que está guardado na mais alta das prateleiras. Começo a sentir o mau cheiro do anão Zebedeu que nunca toma banho. Consigo escutar os mais de mil viajantes que todos os dias chegam à vila da floresta de Okatonga. Vejo a gruta escura que têm de atravessar e até sinto a humidade que fez crescer as estalagmites e as estalactites. É como se a despensa também lhe pertencesse. Vejo a luz esverdeada que indica a saída e consigo ver a floresta perdida em toda a sua extensão. OH! Não pode ser verdade!? Eu consigo MESMO ver a floresta perdida de Okatonga. Está mesmo ali, no fim daquela luz esverdeada. Mas como é que eu aqui cheguei?
O João Miguel, sem ter percebido, ao tocar na prateleira mais alta da despensa da cozinha, fez tombar por sobre si o saco invisível das histórias da mãe. Ao contrário do que ele supunha, o saco era grande, tão grande que acabou por engoli-lo completamente transportando-o até a história que dentro dele trazia guardada.
- Mas como é que eu vim aqui parar? Como é que eu vim aqui parar?
Sem tempo para respirar, o João Miguel, que tapava a saída da gruta, foi empurrado para a frente por um dos muitos viajantes.
Os seus olhos vivos bebem agora a beleza da paisagem de Okatonga. A floresta ocupa toda a linha do horizonte e abrange tudo aquilo que a vista alcança. O João Miguel não tem medo de a explorar. Não tem medo das consequências que a sua investigação lhe possa trazer. Não tem receio porque nenhuma das histórias da mãe acabou com um final infeliz. Se ele teve a sorte de vir parar dentro desta nova história, então esta também será uma história que terá, obrigatoriamente, um final feliz. É nisso que ele acredita, do fundo do coração. É por isso que o João Miguel decidiu aventurar-se, de pijama e chinelos, pela gigantesca floresta perdida de Okatonga, pátria do anão alquimista que todos conhecem pelo nome de Zebedeu.

terça-feira, 17 de abril de 2012

MULTIDÃO


15 de ABRIL 2012



2 – MULTIDÃO


A floresta de Okatonga localizava-se na zona mais a norte do país com o mesmo nome. Para se chegar até lá era necessário atravessar dois rios e dois vales. Depois, tinha-se de subir um grande monte, percorrer com cuidado o seu cume, contorná-lo, descer pela outra encosta, mais verdejante, entrar numa pequena gruta junto ao seu sopé, seguir atentamente as indicações muito antigas que estavam pintadas nas extensas galerias, evitar tocar nas estalagmites e estalactites que se encontravam semeadas um pouco por toda a parte e encontrar uma luz esverdeada que aparecia a determinada altura do percurso a indicar a saída. Era assim que, finalmente, se chegava à orla da famosa floresta perdida de Okatonga.
Na verdade, chamava-se floresta perdida mas todos começavam a saber como lá chegar. Isso aconteceu porque os produtos do anão Zebedeu ganharam fama tremenda. Foi difícil manter a novidade dentro das fronteiras da floresta e os viajantes começaram a chegar. Primeiro vieram apenas uns quantos viajantes solitários, depois chegaram às dezenas, mais tarde já eram centenas até que, no período do verão, dias houve em que chegavam à floresta mais de mil viajantes a procurar o famoso anão alquimista para lhe comprarem os tão desejados bálsamos. Era uma canseira, só de ver assim tanta gente a atravessar os dois rios, os dois vales. Depois escalavam o monte, percorriam-no com cuidado, desciam pela sua encosta - alguns caíam - entravam na gruta, seguiam as indicações pintadas nas galerias, evitavam as estalagmites e estalactites - alguns não conseguiam - observavam a luz esverdeada que indicava a saída e, finalmente, chegavam à orla da floresta de Okatonga. Era uma terrível canseira!
Se tantos se faziam ao caminho era porque o prémio devia ser extraordinário. As poções, cremes e bálsamos de Zebedeu mereciam todos esses esforços. As aventuras e os receios pelas quais tinham de passar mereciam todos esses esforços.
A pequena vila onde o anão habitava começou a crescer e tornou-se um autêntico formigueiro humano com tudo de bom e de mau que esta nova situação lhe causava.
- Tanta gente na floresta faz-lhe muito mal, não é mãe? As pessoas que não têm cuidado assustam os animais, estragam as plantas e a vegetação, deitam lixo para o chão ou, pior ainda, podem até provocar algum incêndio! Mas quem terá informado essas pessoas de que na floresta vivia o anão Zebedeu? Alguma bruxa invejosa, algum comerciante ou turista tonto, não achas mãe? Será que na floresta passeiam turistas e feirantes e vendedores como os das feiras? E haverá bruxas em Okatonga? Têm de existir bruxas em Okatonga porque em todas as florestas conhecidas moram bruxas invejosas e anões esquisitos como o Zebedeu. E depois, mãe, o que foi que aconteceu?
O João Miguel começou a fazer as perguntas do costume. Sempre que uma nova história sai do saco invisível, sempre que essa história o cativa e lhe atiça a curiosidade, eis que começam a saltar as perguntas sobre tudo e mais alguma coisa.
- Não sei! Não sei mesmo o que foi que aconteceu. Não existem mais folhas neste livro. Tu bem sabes que, quando fica tarde, o saco invisível pede de volta a história para que possamos descansar. Amanhã, como disseste, é sábado e a história vai continuar.
Oh! Vá lá mãe! Isso é muito chato! Agora que a história ia começar e tu me ias contar os porquês, vamos ter de dormir? Não me apetece nada. Conta só mais um bocadinho! Eu prometo que não te interrompo mais mãe, prometo, prometo, prometo!
À medida que os viajantes iam chegando à floresta perdida de Okatonga - nome que deixou de fazer qualquer sentido - crescia cada vez mais a fama de Zebedeu, e crescia cada vez mais a inveja dos outros anões alquimistas. A floresta, agora, era tudo menos uma floresta perdida. Dizem que mais de vinte e cinco mil pessoas a visitaram desde que ficaram famosos os bálsamos e os cremes extraordinários do pequeno anão Zebedeu.

sábado, 14 de abril de 2012

ZEBEDEU


13 de ABRIL 2012



1 – ZEBEDEU


- Não olhes assim para mim. Porque me olhas assim? Não tenho mais nada para contar. Acabei e estou muito cansada. Pode ser que amanhã o dia me dê forças para te contar mais uma história.
O pequeno não tem sono, apenas vontade de escutar a voz melodiosa da mãe, apenas vontade em imaginar as cores dos enredos e de tantas personagens que habitam nessas histórias.
- Vá lá mãe, mais uma. Conta-me outra história que não tenho sono e amanhã é sábado. Ninguém as sabe contar como tu. Prometo-te que se me inventares uma eu não fujo de noite para a tua cama como das outras vezes. Eu prometo… e com anões e coelhos e sapos, mãe, está bem!? Pode ter sapos e anões. Tu sabes que eu gosto de sapos às cores e de bolos de aniversários e de festas, como aquela festa maluca da Alice no País das Maravilhas em que aparece o Chapeleiro Louco… vá lá mãe, faz-me a vontade! Conta! Conta lá…
- Acalma-te João, credo! Até parece que as histórias vão acabar. Tu sabes que é o saco invisível da mãe que guarda as histórias de que tu tanto gostas. Hoje deixou-me retirar as duas que te contei e não sei se ele aceitará oferecer-te mais uma sem ficar zangado. É um abuso pedir-lhe três histórias de uma vez, só para te fazer a vontade.
O João Miguel não gosta nada de desculpas, apenas de histórias. O saco invisível da mãe não se zangará se lhe pedir mais uma história. Ele é um grande amigo. Todas as histórias que o saco lhe ofereceu são incríveis, e são bem mais engraçadas do que as histórias dos muitos livros que o João Miguel tem no seu quarto.
- Pede-lhe uma mais pequena, eu não me importo. Mas tem de ter anões, coelhos e sapos às cores, está bem mãe, pede uma com sapos às cores.
Quem consegue recusar algo a este menino de olhos cativantes e voz da cor do mel? Ninguém, muito menos a mãe que já saiu do quarto para preparar o seu teatro. Faz de conta que corre pelo corredor, desce as escadas, volta a subi-las e, ao entrar novamente no quarto já tinha nascido mais uma história para contar ao João Miguel.
Era uma vez, há muito, muito tempo, ainda os animais falavam, vivia numa escura floresta um anão feio e vaidoso chamado Zebedeu. A casa onde morava mal se percebia. Folhas, ramos, troncos esquecidos e pedras carregadas de musgo foram os materiais utilizados por Zebedeu para que ninguém o pudesse localizar naquela sombria zona da floresta onde até o sol mal conseguia chegar. Estava encostada a um castanheiro centenário e era ali que ele se sentia bem.
O anão não gostava de se lavar e, por esse motivo, não apreciava dias chuvosos, nem os dias de muito sol e calor. Também não gostava dos dias em que nevava, nem de dias ventosos, nem de dias primaveris, pois é alérgico a pólen e passava os dias a espirrar assim que a Primavera nascia e o Inverno se despedia. Não gosta de formigas porque lhe invadem o quarto sem pedirem licença, não gosta de mosquitos porque o impedem de descansar, não gosta de mochos nem de corujas porque cantam de noite e não o deixam dormir, não gosta de grilos nem de cigarras porque cantam de dia e não o deixam dormir. Zebedeu, afinal, parecia não gostar de muitas coisas na floresta, a não ser dele próprio, da sua cara feia e de um gigantesco espelho onde passava horas a admirar-se.
O anão Zebedeu tem centenas de cremes de beleza dentro de boiões de vidros coloridos no seu quarto de banho. Não tem banheira, lavatório nem bidé, mas foi aqui que pendurou, numa parede, o famoso e gigantesco espelho capaz de o refletir de alto abaixo e em frente ao qual passava grande parte dos seus dias.
- Posso fazer-te uma pergunta, mãe?
- Sim meu querido, qual é?
- Porque é que o Zebedeu vive na floresta se são tantas as coisas nela que o incomodam? Vê se no livro há resposta para isto.
Zebedeu vive na floresta de Okatonga porque só aí se conseguem encontrar os ingredientes naturais necessários para o fabrico dos seus cremes de beleza. Ele é um anão alquimista especializado em cremes naturais que não só embelezam como, segundo dizem, conseguem retardar o envelhecimento. É por este motivo que o anão se escondeu no lado mais sombrio de Okatonga. Todos desejavam os seus famosos produtos. Zebedeu ganhou muita fama e riqueza mas cansou-se de aturar tanta gente, todos os dias, a exigir cada vez mais produtos, cremes e bálsamos extraordinários. Até que um dia, decidiu desaparecer para sempre ou, pelo menos, durante um bocadinho de sempre.
- Mamã, isso não pode ser! Ninguém consegue desaparecer durante um bocadinho de sempre.
- Pode sim, João Miguel! O anão Zebedeu decidiu desaparecer por uns tempos porque ninguém o deixava descansar.
O alquimista sabia fórmulas muito secretas para criar cremes maravilhosos e todos eles prolongavam a beleza das pessoas. Pastas espantosas permitiam, por exemplo, tornar as sobrancelhas douradas e brilhantes, outros cremes impediam a formação de olheiras, outros mantinham a pele rosada por três semanas, outros impediam que a barba crescesse durante dois dias, alguns faziam crescer novamente as cabeleiras a quem sofria de calvice ou de queda acentuada dos cabelos. Tinha bálsamos para acrescentar luz a todos os sorrisos, para evitar o aparecimento de borbulhas, para ajudar a cicatrizar arranhões e feridas em menos de trinta minutos, para fazer crescer um centímetro de unha num minuto e até, imagine-se, para retorcer pestanas minúsculas e quebradiças que ficavam fortes e onduladas com apenas duas rápidas aplicações.
O anão Zebedeu tinha bálsamos e cremes para quase mil aplicações. Por esse motivo, os pedidos e a procura dos seus produtos não paravam de aumentar. Ele acabou por se cansar e fugiu para esse lugar mais recatado da floresta de Okatonga onde só as formigas, os mosquitos e as corujas o vão visitar. Diverte-se na sua ocupação predileta – experimentar novos produtos naturais em frente ao grande espelho que pendurou na parede do seu quarto de banho.
- Mãe, não te esqueças dos sapos e dos coelhos! Quando será que eles aparecem na história?
O menino não dá sinais de cansaço e está agora mais desperto do que no início da primeira história que a mãe lhe contou. Consegue imaginar a figura do anão alquimista como aquelas senhoras que usam cremes em toda a cara e colam fatias circulares de pepino nos olhos. Imagina-o de cabelo enrolado numa toalha branca e o corpo dentro de um robe perfumado. Só que este anão não se lava, não toma banho, não gosta de água. Deve ser um anão que cheira mal, que deve mesmo cheirar muito mal…