20 de ABRIL 2012
4 – CORONEL – SAPO
João Miguel ainda mal acredita no que lhe está a
acontecer. Estava deitado na sua cama há apenas cinco minutos. Foi a sua
curiosidade que o transportou até Okatonga onde a floresta começou a chamá-lo.
Terá de procurar a vila onde habitava Zebedeu. Para que isso aconteça, tem de
perder esta espécie de nervoso miudinho que começa a tomar conta de si e tem de
se aventurar pelo interior da floresta.
O menino salta por cima de uma rocha perto da saída da
gruta e desce por um caminho desenhado pelos passos dos muitos viajantes que
por aqui já andaram. Apesar de ser noite, o céu em Okatonga brilha com a luz de
milhares de estrelas e com o brilho alaranjado da imensa lua cheia que passeia
por cima da floresta.
- Olá João Miguel! Estávamos à tua espera e tu nunca
mais chegavas. Sê bem-vindo a Okatonga e à sua famosa floresta perdida.
O pequeno não entende de onde vem esta voz que lhe soa
de todos os lados. É como se as árvores possuíssem altifalantes.
- Olá! Mas quem és tu? Onde estás? De onde me falas? A
tua voz parece sair das árvores e da montanha e até do céu!
À entrada da floresta iluminou-se um longo tapete de
relva, impecavelmente aparada, que indica um rumo a seguir. Em cima dele,
alinhados, estão mais de duzentos sapos coloridos de olhos esbugalhados.
Esperavam por João Miguel, sabiam que o menino curioso apareceria por aqui. O coronel-sapo
tinha preparado as tropas e deslocaram-se rapidamente até a entrada da floresta
de Okatonga. Depois, deu ordens para apararem cuidadosamente a passadeira de
relva fresca para receber o ilustre visitante. Deu ainda instruções a quatro
soldados-sapo para carregar às costas uma caixa com um presente que o ajudará na
exploração das mais inóspitas zonas da floresta.
O coronel-sapo avança, acompanhado dos sargentos, para
junto do João Miguel. Ele está encantado por ver todos estes sapos coloridos
tão perto de si.
- UAU! Que maravilha! Tão giros! Estar a viver a
história da mãe é muito mais fixe do que apenas escutá-la antes de adormecer. A
mãe sabe contá-la como ninguém. Eu aprecio-a muito e gosto de ficar a imaginar
todas estas coisas mas… estar aqui, mesmo aqui, dentro da história, assim mesmo
AO VIVO, é brutal!
Os mais de duzentos sapos voltam a dar as boas vindas
ao menino de pijama.
- Olá João Miguel! Estávamos à tua espera e tu nunca
mais chegavas. Sê bem-vindo a Okatonga e à sua famosa floresta perdida.
Todos os sapos o saúdam enquanto o coronel se prepara
para discursar.
- Hmm, Hmm… Ao nosso ilustre visitante, a todos os
animais de Okatonga, a todos os habitantes da montanha, das grutas e da orla da
floresta, a todos os insetos visíveis e invisíveis, a todas as pedras, seixos,
ervas, ramos, troncos, folhagens, e a todos os demais que nos escutam e que não
referi, a todos, muito boa-noite! Esta é uma data que ficará, para sempre, na
história do nosso país. É com grande alegria que recebemos o Visitante! Como
todos sabem, é ao Visitante que devemos a nossa existência. Ele pediu à sua mãe
uma história onde aparecessem sapos coloridos e, obedecendo a essa sua vontade,
aqui estamos nós para lhe agradecer. Obrigado, Visitante, por tanto nos teres
desejado! É uma honra para nós, uma grande honra, e este dia especial ficará
eternamente marcado na história de Okatonga! Tenho dito!
E uma chuva de aplausos ecoou pela floresta após as
palavras do coronel-sapo. Por muito tempo se deram vivas e gritaram palavras de
incentivo e agradecimento ao famoso Visitante, que ainda mal percebe o que aqui
se está a passar.
- Mas… mas, como? Não entendo? Eu? Mas… o que é que
foi só por causa do meu desejo? O quê? O que é que eu tenho… eu queria uns
sapos coloridos na história da mãe, lá isso é verdade mas, não me digam que é
por isso que vocês aqui estão? Isso é coisa de malucos! Não pode ser verdade o
que dizem. Vocês não podem estar aqui só porque eu pedi uma história com sapos
coloridos à mãe.
- É claro que pode Visitante! – respondeu o
coronel-sapo – A tua vontade deu origem a este exército, deu origem aos sargentos
e à minha pessoa. Essa é a pura das verdades! É uma evidência evidente, uma
verdade verdadeira! É uma real realidade, algo impossível de negar pois, como
vês, aqui estamos! Se aqui estamos é porque se trata de uma evidência evidente,
nem mais nem menos! É isso mesmo. Uma evidência evidente. Tenho dito!
Os soldados-sapo e os sargentos reforçam as palavras
do coronel.
- É uma evidência evidente, uma real realidade! Nada
nem ninguém o pode negar. Temos dito!
Acabadas as palavras, os quatro soldados-sapo saíram
da formatura com a caixa branca de cartão às costas. O presente foi entregue ao
coronel que depois o deu ao João Miguel. Seguindo ordens, os soldados-sapo
regressam à posição inicial enquanto o menino olha perplexo para o cubo branco
de cartão que foi depositado junto aos pés.
- Visitante! Este é um presente para ti. Será
fundamental para o teu passeio por Okatonga. Esperamos que gostes e, até breve!
E com estas palavras, desapareceram todos aos saltos,
num abrir e fechar de olhos, para o mesmo local escuro de onde há bem pouco
tinham aparecido.
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