22 de Abril de 2012
5 – ESQUECIMENTO
As árvores, mais altas do que alguns prédios, tocam-se
nas copas protegendo o interior da floresta. Passaram a ser a única companhia
do João Miguel, juntamente com a lua e as estrelas.
A caixa branca está enfeitada com uma bonita fita da
mesma cor, atada num laço que suspira pelos dedos finos do menino. O que será
que os sapos lhe trouxeram de presente? O que será que esconde a escura
floresta?
- Tenho de ganhar coragem e avançar pela passadeira
brilhante de relva que os sapos me estenderam. É melhor aproveitar. Quem sabe
se não será esta a única maneira de conseguir chegar ao interior de Okatonga.
E sem mais demora, o João Miguel seguiu pela
passadeira verde que se encontrava impecavelmente aparada. Mal deu os primeiros
passos dentro da floresta, um silêncio raro tomou conta de si e a passadeira
começou a encolher, começou a ficar cada vez mais estreita, tão estreita como a
largura dos seus pés.
- Oh! Que cabeça a minha! Esqueci-me do presente! Tenho
de voltar atrás... Como foi possível esquecer-me do presente?
Quando se virou para regressar, o tapete verde encolheu
ainda mais, encolheu tanto que só restava uma finíssima e brilhante risca verde
que ele seguiu sempre a correr. Ao fazê-lo, perdeu os confortáveis chinelos de peluche.
Não abrandou. Chegou ao ponto de partida no exato momento em que a risca de verde
desapareceu por completo. Está cansado pela corrida, assustado com o desaparecimento
da estrada de relva e triste por ter deixado os seus chinelos favoritos algures
na floresta. O João Miguel começa a duvidar se esta será, de verdade, a floresta
da história da mãe. A primeira excursão por Okatonga não correu nada bem. A floresta
é escura, imponente, silenciosa e parece não gostar de intrusos. E o que terá feito
desaparecer a bela estrada de relva? Se não se tivesse esquecido do presente, não
teria regressado e estaria agora perdido no interior de Okatonga, no escuro, no
meio daquele silêncio e de madrugada. Isso não seria lá muito bonito!
- Bolas! Mas que chatice! Estou descalço. Assim não vou
conseguir explorar a grande floresta. Sem chinelos, nada feito! É tão escura e tão silenciosa, e não é nada simpática.
O João Miguel tinha-se cortado, sem perceber, numa das
muitas silvas que pisou ao regressar. Duas gotas de sangue caem em cima do presente
branco que ainda permanece por abrir.
Cansado, o menino acaba por adormecer junto à caixa branca
recordando os confortáveis chinelos de peluche.
Sem comentários:
Enviar um comentário