11 de Outubro de 2012
43 – AS MAÇÃS DA SABEDORIA
Montado no maravilhoso triciclo de
Zebedeu, o menino pedala com orgulho ao longo dos corredores espelhados em
forma de tubo. Mantém uma velocidade constante e o veículo desliza com rapidez.
A sua imagem é refletida de maneira muito distorcida, causando efeitos
estranhos e coloridos.
João Miguel abranda um pouco a velocidade
só para confirmar se o espantoso velocípede perde brilho ou, quem sabe, começa
a gritar com ele numa voz alterada. Nada disso acontece, o triciclo continua a
brilhar como um cometa e dele não sai nenhuma voz ou sentença. Esta situação
não o impede de continuar a pedalar, pois foi isso que o anão alquimista lhe
disse para fazer.
- Pedalar, pedalar, pedalar! Tenho de
continuar a pedalar! Pedalar, sempre, pedalar sem parar, até que o triciclo
chegue ao fim da corrida. Desta vez não vou parar! Desta vez não vou dar
descanso às pernas, mesmo que as dores se tornem insuportáveis.
O tempo passa e o longo corredor espelhado
permanece imperturbável. Vai refletindo a imagem distorcida da viatura e do
condutor. O som monótono dos pedais a girar e o brilho dourado do triciclo são
as marcas mais constantes do passeio.
O menino está com apetite. Já passaram
quase três horas desde que a viagem começou. Uma maçã vai saber-lhe bem e ele
guardou duas para momentos como este. Vira-se para trás para retirar a fruta da
sacola que se encontra guardada na cesta do triciclo.
- Olá João Miguel! Bom-dia! Será que me
podes oferecer uma maçã?
O rapaz quase cai com o susto.
- Credo! Estás doido, Renato? Estavas
sentado aí atrás sem dizer nada! Pregaste-me um susto tão grande que quase me
despistei.
O sapo sorri. Tinha pensado em não pregar
a partida, mas depois reconsiderou. A viagem estava a ser tão aborrecida que
preferiu aguardar pela fome do amigo para brincar com ele.
- Não estás contente por me ver? Preferes
continuar sozinho a viagem? Eu posso voltar a desaparecer, se for esse o teu
desejo.
O menino sabe que o Renato não fala a
sério, e responde:
- É claro que estou muito contente por te
ver, Renato! Gosto da tua companhia. Não sei como conseguiste saltar para o
cesto sem que eu tivesse dado conta. Podes abrir o saco e comer a outra maçã. Trouxe-as
do laboratório de Zebedeu e são muito sumarentas.
O sapo arregala os olhos e exclama:
- Maçãs do laboratório de Zebedeu! Vou
trincar uma maçã que veio do gabinete do alquimista! Sou o sapo mais sortudo
deste mundo!
O rapaz acha muita piada à reação do sapo.
Estas são maçãs alquímicas, e raros são aqueles que alguma vez tiveram o
privilégio de as trincar.
- São as maçãs da sabedoria, João Miguel!
Todos os animais de Okatonga sonham, um dia, poder comer uma destas maçãs.
Matam a fome de conhecimento e ajudam a entender assuntos muito complexos e
diversificados. Acabaste de fazer de mim o sapo mais feliz e instruído de toda
a Okatonga, e eu jamais o poderei esquecer.
A viagem prossegue de barriga consolada.
Se estas forem mesmo as maçãs do conhecimento,
talvez os ajudem a encontrar a saída deste longo túnel espelhado.
O menino continua a pedalar. Ele não deseja
regressar àquele labirinto escuro e gelado onde vivem Anastácia e as suas doze
filhas toupeiras.
Renato lambe os lábios de satisfação com o
que resta do fruto sumarento.
- HMMMMMM!... Que delícia! Que maçã tão
apetitosa! O meu corpo já mudou de cor mais de quarenta vezes para anunciar a
minha felicidade.
O menino volta-se para trás para observar
o fenómeno que vai transformando o corpo do amigo numa espécie de caleidoscópio
iridescente com as cores do arco-íris. O brilho colorido e algo extravagante
que nasce da pele do Renato mistura-se com a cintilação dourada do triciclo de
Zebedeu que continua a avançar a bom ritmo.
As cores vibrantes e muito luminosas
espalham-se como estrelas cadentes ao longo do corredor espelhado que se
estica, se expande e se alarga até desaparecer por completo.
O longo tubo cilíndrico espelhado tornou-se
numa imensa pradaria verdejante carregada com flores de todas as cores.
O triciclo dourado termina aqui a sua
marcha.
João Miguel e Renato estão de regresso à
floresta de Okatonga!
Começa a chover uma chuva miudinha.
O triciclo de Zebedeu transforma-se em milhares
de pequenas gotículas que se juntam às gotas mais pesadas que agora começam a cair.
- Anda, João Miguel! Pega na tua sacola e salta
para as minhas costas! Vamos continuar a viagem rumo à cidadela de Okatonga onde
todos esperam por ti.
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