segunda-feira, 9 de julho de 2012

SAPO COMPINCHA



09 de Julho de 2012

34 – SAPO COMPINCHA


Um salto apenas separa Renato e João Miguel da janela que paira no ar. O sapo coloca o menino às costas e decide pular por ela. Aterram mesmo em cima da mesa do salão.
Zebedeu sobe até à janela, fecha-a juntamente com as portadas e o ambiente torna-se sombrio e bafiento. Deixou de cheirar a chocolate, canela e limão. Os odores são agora os de uma casa velha e húmida.
O anão está a estranhar tanta confusão. Não é fácil, para quem se habituou a viver sozinho, ter visitas a vaguear pelos aposentos da sua habitação. Monta a bicicleta, e desenha três novos círculos perfeitos ao redor da mesa antes de voltar a desaparecer pela pequena porta entreaberta.
- Vai, João Miguel, corre! Foi para isto que tu aqui vieste! Eu agora já estou bem. – diz Renato com um olhar cintilante. – Despacha-te antes que lhe percas o rasto. Eu fico aqui a comer deste delicioso bolo de chocolate. Está com ótimo aspeto!
O menino está um pouco atordoado com esta agitação, mas vai ter de ser rápido se não quiser perder Zebedeu de vista. Desce das costas do Renato, desce da mesa para a cadeira, desce da cadeira para o chão e corre atrás das marcas da bicicleta.
- ZEBEDEU, ZEBEDEU! ONDE ESTÁS? ESPERA POR MIM! – reclama o João ao afastar para trás a pequena porta do salão.
Lá dentro uma escuridão total. Nada a não ser um escuro impenetrável, misterioso e assustador que o faz recuar.
- Então, o que se passa? – pergunta Renato com a boca cheia de bolo. – Não me digas que ficaste com medo do escuro, logo tu que tens sido tão corajoso.
João Miguel espera pela resposta de Zebedeu.
Está demasiado escuro para ele o seguir. Não se vê nada ali dentro
As migalhas chovem do cimo da mesa para todos os lados. O sapo está esfomeado e come tudo o que resta do bolo.
- Pronto, fiquei saciado. – exclama o Renato a lamber-se alegremente. Agora vou auxiliar-te. Eu bem te disse que estaria sempre ao teu lado para te servir!
O menino agradece a gentileza, aliviado.
Aquele escuro é bem mais assustador do que o que teve de enfrentar para descer as escadas de caracol.
- Se Zebedeu tem uma bicicleta, tu tens o sapo-guardo mais fiel de toda a Okatonga à tua inteira disposição. Salta para as minhas costas. AGARRA-TE BEM QUE VAMOS COMEÇAR A GRANDE PERSEGUIÇÃO! – ordena Renato, acendendo as cores mais brilhantes e esplendorosas do seu corpo de batráquio.
Mal atravessam a porta, tudo se ilumina, fica vivo e colorido, e as marcas deixadas por Zebedeu tornam-se visíveis e mais fáceis de seguir.

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