06 de Julho de 2012
33 – MALDITA MAÇANETA
É muito difícil abrir a janela do salão.
As pequenas mãos do João Miguel não conseguem rodar a
maçaneta de marfim que escorrega com facilidade.
- AJUDEM-ME, PRECISO DE ALGUÉM QUE ME AJUDE; POR
FAVOR! SOCORRO! – grita Renato numa voz cada vez mais rouca.
O menino bate nos vidros sujos para tentar acalmar o
sapo, mas ele não consegue escutar. Está aflito, num pânico incontrolável, e
abana a cabeça em todas as direções. Encolheu o corpo várias vezes até mais não
poder, tentando fazer com que os nós da poderosa teia se alargassem, mas isso
de nada lhe serviu.
Renato gastou todas as forças a tentar soltar-se. Está
exausto, sem fôlego e com a garganta rouca de tanto gritar. Estaria verde de
cansaço se já não fosse dessa cor.
- RENATO, RENATO; ESPERA MAIS UM POUCO QUE EU VOU
AJUDAR-TE! – grita o João Miguel através da vidraça amarelecida. – Se não
conseguir abrir o raio da janela, parto-a em mil pedaços! Não será uma maçaneta
escorregadia que vai impedir-me de te salvar!
O chocolate que lhe suja as mãos passa para o puxador,
o que torna a tarefa bem mais complicada.
- OH! Mas que raio! Estou farto, acabou-se, vou ter de
partir o vidro e não se fala mais no assunto! – decide o menino muito
arreliado.
Coloca-se em cima da cadeira e prepara-se para
pontapear o vidro com a bota direita, quando ouve tocar a campainha da
bicicleta de Zebedeu. – TRRIIM, TRRIIM, TRRIIIIIIM!
O menino olha para baixo e vê o anão com um par de
luvas na mão.
- NÃO PARTAS O VIDRO; JOÃO MIGUEL! – ordena o
alquimista a agitar as luvas azuis no ar, de um lado para o outro.
- Experimenta calçar estas luvas de borracha para
fazeres rodar a maçaneta. Pode ser que resulte!
E com pontaria certeira, atira-as ao menino que as
apanha com facilidade. Servem-lhe como uma luva!
- Vá lá, rápido, tenta agora! – diz Zebedeu, ansioso com
o desfecho da ação.
Foi após a segunda tentativa que a janela se abriu. O menino
salta, como um pequeno pardal, para o ramo que se encontra ali perto. Equilibra-se
com cuidado e aproxima-se do sapo apavorado.
- Pronto, pronto, acalma-te! Já aqui estou para te ajudar.
Renato nem acredita no que lhe está a acontecer. Os seus
olhos ficam ainda mais esbugalhados quando dá conta da presença do imprevisto salvador.
- Obrigado, muitíssimo obrigado! Não tenho palavras que
cheguem para te agradecer. És um rapaz corajoso! Vieste de novo em meu auxílio.
A partir de hoje estarei sempre ao teu lado para te servir! – exclama o sapo, muito
sensibilizado e com lágrimas na vista.
A corda está bem apertada, mas os finos dedos do João Miguel
dão conta do recado. Em pouco tempo o Renato fica livre e vibra de felicidade, mostrando
as muitas cores garridas do seu corpo de sapo.
- Anda, vem comigo Renato! Estarás mais seguro em casa
de Zebedeu. – ordena o menino a apontar para a janela que paira no ar junto ao ramo
da sequoia.
É a primeira vez que Renato vê uma janela voadora, mas
esta não é a hora nem o momento para começar a fazer perguntas sobre coisas esquisitas.
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