sábado, 30 de junho de 2012

ESCADA DE PEDRA




30 de Junho de 2012

26 – ESCADA DE PEDRA


Um silêncio profundo invade o espaço por onde rasteja João Miguel. Ao passar cuidadosamente por debaixo das grandes raízes, os barulhos da floresta deixaram-se de escutar. O interior do carvalho é oco, tal como Esmeralda tinha dito, e está sujo e mal iluminado.
O menino olha lá para o alto e vislumbra metade da lua iluminada. Aos poucos, os seus olhos habituam-se à penumbra e logo descobre as lajes de granito retangulares que forram este pátio interior. Começa a limpar o pó, as areias, a terra, a vegetação, os galhos e as ramagens secas que o vento arrastou. Usa as mãos e as botas nas tarefas de varrimento e, em pouco tempo, coloca à mostra quase todas as lajes que pavimentam o recinto. São ásperas, rugosas, texturadas. Nenhuma delas se apresenta lisa ou polida.
João Miguel continua a varrer tudo o que falta, já sem a companhia da lua por metade.
A noite cai. Com ela chegam também nuvens escuras que tapam a lua solitária. Isto não impede o menino de continuar a verificar laje após laje, a apalpar o chão com os dedos finos, a tatear, a afagar, a explorar todas as pedras enquanto varre a sujidade.
Ao chegar ao centro do pátio, retira os ramos e as folhas ressequidas que tapam a mais pequena de todas as lajes retangulares. Percebe, de imediato, que ela é não só a mais pequena como é também a única que, até agora, se apresentou lisa numa das partes.
- Deve ser esta a laje que Esmeralda referiu. Está menos áspera aqui no meio. Vou fazer força e pressioná-la como ela me disse.
João Miguel carrega no centro da laje de pedra com as mãos, usando toda a sua força. De imediato, a laje desce cerca de três centímetros para dentro do chão, regressando depois à posição inicial. O menino levanta-se, assustado, e é então que um cilindro de pedra, com a sua altura, sai do chão e levanta a laje que acionou o mecanismo de abertura. Um buraco, com a forma de três quartos de uma circunferência, surge no pavimento de granito, dando acesso a uma grande escadaria de pedra que desce por ele adentro.
João Miguel tem agora cinco segundos para vencer os seus medos, cinco segundos apenas, nada mais. Tem de ser capaz de iniciar a descida ou a abertura voltará a fechar-se até amanhã. Os degraus descem em caracol e ele só consegue ver os quatro primeiros, tal é a escuridão daí para baixo.
Respira fundo, e com uma coragem do tamanho do universo, começa a descer contando os degraus da escadaria:
- Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove,… - canta o menino em voz alta para não se sentir tão sozinho.
O mecanismo volta a fechar-se e uma escuridão absoluta acompanha o João Miguel. A descida faz-se no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio. O menino vai-se orientando com a mão esquerda colada ao imenso pilar central, também ele construído em granito.
- Vinte e dois, vinte e três, vinte e quatro, vinte e cinco…

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