sábado, 9 de junho de 2012

MADAME SUZETE



08 de Junho de 2012

19 – MADAME SUZETE


Renato permanece quieto, intimidado pela grande aranha branca com voz de metal. Quer mover-se, quer recuar, nem que seja só um bocadinho, mas não consegue. As pernas tremem-lhe, os braços perderam forças e os seus grandes olhos vermelhos deixaram de pestanejar.
- Então, o gato comeu-te a língua? Quem és tu e o que fazes aqui? – insiste a aranha branca.
As palavras não saem da boca de Renato que treme tanto como uma apetitosa gelatina de frutas. Os quatro olhos de cristal da aranha brilham intensamente. As patas do grande inseto levantam-se e ela toca por três vezes no pequeno capacete do sapo-soldado.
- Alô! Está alguém em casa? Perdeste o juízo ou ficaste mudo de repente? Afinal de contas, o que foi que te trouxe até tão distantes paragens? Desembucha de uma vez, caso contrário terei de te comer como fiz com o ouriço! Preferes falar ou ser comido?
O sapo muda de cor, as pintas coloridas do corpo ficam cinzentas, o verde fica pálido e os seus olhos vermelhos ficam baços e inexpressivos. Engole em seco, com dificuldade, ganha coragem e começa a responder:
- Hmmmm….hmmmm, desculpe… desculpe-me senhora aranha, mil perdões. A última coisa que desejava era incomodar tão formosa criatura. Desde que nasci que os meus olhos jamais admiraram animal tão belo e viram tanta formosura. A senhora dona aranha é bela e muito simpática.
- Dona Suzete! O meu nome é Suzete, Madame Suzete. E tu, como te chamas? – pergunta num tom menos ameaçador.
- Eu sou Renato, um simples sapo-soldado às ordens do Coronel-sapo, às ordens do coelho ministro Belchior, às ordens do presidente MestreTino. Vim aqui ter por mero acaso. Um simpático rapaz auxiliou-me por duas vezes quando tombei. Saiba a dona Suzete que eu sou algo desajeitado e caio com muita facilidade. A minha cidadela agora mexe-se com muita regularidade, mexe-se muito e rodopia e desce e sobe com tamanha agitação que eu passo a maior parte do tempo a ser projetado pelos ares e a tombar no chão com violência. Passo mais tempo deitado do que de pé a guardar as muralhas de Okatonga. – explica o Renato com muita velocidade e muitos perdigotos, e continua – Esse menino seguiu depois, acompanhado de uma amiga, pelo interior da floresta. Os dois são bastante simpáticos, e rápidos também. Mal eu lhes agradeci a gentileza, correram velozes em direção ao coração da floresta e nunca mais os vi. Tentei segui-los, tentei alcançá-los, saltei, pulei, corri e foi assim que acabei por aqui chegar.
Madame Suzete esfrega as patas, aproxima-se do sapo e coloca os seus quatro olhos de cristal em frente aos olhos pálidos de Renato.
- Se tu conseguiste cá chegar, também esses dois aventureiros de que me falas são capazes de repetir a tua proeza e isso não me agrada mesmo nada.
A aranha começa a produzir uma fina, elástica e pegajosa teia que usa para enrolar o Renato. Com grande habilidade prende-o ao gigantesco tronco da sequoia como se ele fosse uma pequena múmia em forma de sapo. A cabeça é a única parte do corpo que fica a descoberto e o sapo reclama:
- Madame Suzete, por favor, não me deixe aqui preso desta maneira. Que mal lhe fiz eu para merecer este castigo?
Antes de começar a descer, a aranha vira-se para Renato respondendo-lhe num tom de voz muito assustador.
- Caluda! Estás com sorte por eu estar sem apetite, caso contrário já te tinha engolido. Vou partir em busca dos teus amiguinhos, cheira-me que devem ser bem gostosos e tenrinhos. Assim que eu os encontrar, virei ter contigo para fazer uma bela sopa de sapo colorido.
Renato não acredita no que acaba de ouvir. O seu passeio transformou-se num autêntico pesadelo e, pior do que isso, também acaba de transformar o passeio de João Miguel e de Esmeralda num enorme pesadelo. O sapo não aguenta e começa a gritar:
- MALVADA MADAME SUZETE! MALVADA, MALVADA, MALVADA….!

Sem comentários:

Enviar um comentário