18 de Junho de 2012
21 – EXPLICAÇÕES
A história deste saco invisível tem revelado segredos
que o João Miguel jamais conseguiria imaginar. Em nenhuma outra história da mãe
surgiram personagens tão pouco merecedoras de confiança. Até Esmeralda tem mostrado
atitudes estranhas e algo incompreensíveis, e ainda não lhe explicou a razão
para lhe ter dado a poção do encolhimento. O menino volta a perguntar em tom
vigoroso:
- Então Esmeralda, diz-me lá porque me deste a beber a
poção do encolhimento?
A menina sorri, entende as dúvidas e a irrequietude do
amigo e responde com uma voz melodiosa:
- Nada do que aqui se passa acontece como no teu
mundo, João Miguel. Se pensares bem, tudo isto que aqui ocorre tem motivos bem
fortes para assim acontecer e mora no mais profundo de ti. Dei-te a beber a
poção do encolhimento porque queria que tu ficasses do meu tamanho. Estavas
muito crescido para eu te poder ajudar. E quanto ao resto, vejo que compreendeste.
Tens razão quando dizes que o coelho Belchior atrai os visitantes à cidadela
como fez contigo. Também é verdade que a todos os visitantes são oferecidas
botas militares para que não desistam de encontrar Okatonga. E quanto à receção
na cidadela, com a chegada da bonita carruagem com Belchior como guia, ela
serve apenas para transportar os visitantes até às masmorras do palácio. É lá
que são feitos prisioneiros e foi lá que também colocaram os membros da família
real. Tu tiveste muita sorte, João Miguel. A carruagem pulou tanto que fez a
roda saltar. Belchior ficou aflito quando te viu do lado de fora da viatura e
correu a avisar o Mestre Tino. O grande buldogue fez soar os alarmes e os
soldados-sapos acionaram as alavancas que movimentam a cidadela. Do interior
dos seus alicerces profundos, saltaram milhares de escaravelhos para te
capturar. Essa é a única tarefa desses insetos controladores, encontrar
visitantes desaparecidos ou aqueles que tentam escapar das masmorras do
palácio. Por isso eu te ajudei, por isso eu te fiz sair rapidamente de Okatonga
pelo túnel secreto da casa da porta vermelha. Por isso te dei a poção do
encolhimento, caso contrário não caberias nos corredores e nas partes mais
estreitas e sombrias da passagem.
João Miguel fica mais tranquilo com estas explicações.
Tudo o que Esmeralda lhe diz faz sentido e não tem motivos para duvidar dela,
nem tão pouco da sua amizade. Mas tudo tem sido tão estranho desde que o saco
invisível caiu por cima dele lá do alto da mais alta prateleira da despensa.
Sem que os dois meninos deem conta, a silenciosa dona
Suzete aproxima-se lentamente da clareira onde a conversa vai acontecendo.
Passaram muitos anos desde que a grande aranha branca se aventurou pelas
regiões menos inóspitas da floresta. O sapo Renato conseguiu espicaçar-lhe a
curiosidade e aqui está ela a tentar alcançar os dois amigos que continuam
distraídos na sua ocupação.
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