15 de Junho de 2012
20 – ALBERTO e ALBERTA
João Miguel persegue Esmeralda correndo pela densa
floresta de Okatonga. O menino não sente cansaço, nem fome, nem receio e não
sente necessidade de continuar a correr. Nascem-lhe muitas perguntas para as
quais necessita de respostas.
- Vou parar Esmeralda, para quê continuarmos a correr
a esta velocidade? O meu pijama está cada vez mais rasgado e esta clareira é
ótima para descansarmos um pouco.
A menina abranda e acaba por ceder a algum do cansaço
provocado pela grande correria.
- Tens razão! A cidadela já está bem longe e não falta
muito para chegarmos ao nosso destino. – concorda Esmeralda um pouco ofegante.
Para chegarmos ao nosso destino? – interroga o menino
muito admirado – Mas que destino é esse de que falas? Eu ainda não consegui
entender nada do que se tem passado desde que cheguei a este estranho lugar.
Estou outra vez perdido na grande floresta e tenho uma montanha de perguntas
para ti. Tens de me ajudar a compreender tudo o que aqui acontece. Afinal de
contas, de quem é que andamos a fugir?
Esmeralda sabia que, mais cedo ou mais tarde, teria de
explicar tudo ao menino de pijama e de botas de soldado, que está a ficar nervoso
e impaciente.
- Acalma-te, vá lá, não fiques assim que não vale a
pena. Senta-te aqui ao pé de mim que eu explico-te tudo.
João Miguel obedece e senta-se no fresco relvado em
frente de Esmeralda que prepara o esclarecimento.
- Esta grandiosa floresta onde nos encontramos faz
parte do grande círculo de proteção da cidadela de Okatonga. É um imenso
labirinto que foi criado pelos governantes para impedir a fuga aos visitantes.
Quando Zebedeu começou a fabricar os milagrosos e extraordinários bálsamos e
poções, foi difícil impedir que a fama dos seus produtos chegasse aos povos
vizinhos. Foram muitos os que começaram a chegar à cidadela e mais ainda os que
destruíram partes importantes das nossas grutas e dos nossos vales. Muitos sujavam
e danificavam a floresta para tentar alcançar Okatonga. Zebedeu não apreciava a
publicidade e não gostou de ter de trabalhar mais para satisfazer as vontades e
as necessidades de tanta gente. Eram tantos e tantos visitantes, alguns tão
ricos, que tudo se modificou. De início ainda conseguiu trazer muita riqueza à
cidadela, que cresceu em beleza e majestade e ganhou reconhecimento pelos
atributos extraordinários da arte do anão alquimista. Mas tudo piorou. Os
visitantes começaram a fazer filas aos milhares, filas que percorriam todas as
ruas, ruelas, becos e avenidas da cidadela. Alguns ficavam dias e noites a
aguardar a sua vez para serem atendidos por Zebedeu. O alquimista deixou de
conseguir fabricar as poções para os habitantes de Okatonga. Um dia, fechou-se
dentro de casa e os visitantes começaram a fazer muito barulho, ameaçaram
partir as portas e as vidraças da casa de Zebedeu e acabaram a guerrear uns
contra os outros. Foi nesse dia que o anão resolveu desaparecer para sempre. Mas antes de deixar de vez a cidadela, Zebedeu doou um grande
tesouro, composto por milhares de frascos, garrafinhas, potes e boiões com as
suas poções mais valiosas, aos nossos Reis Alberto e Alberta. E desde então,
coisas muito estranhas começaram a acontecer.
João Miguel escuta atentamente as palavras de
Esmeralda, e não consegue evitar mais perguntas:
- Mas então, se os reis de Okatonga são Alberto e
Alberta, o que foi que lhes aconteceu para ser o Mestre Tino a mandar na
cidadela?
Esmeralda ajeita as pernas para ficar mais confortável
e continua a sua explicação:
- Essa oferta de Zebedeu aos nossos reis deu origem ao
início da era da grande cobiça. Quadrilhas de malfeitores e de ladrões sem
escrúpulos tentaram roubar o novo tesouro real vezes sem conta. Os próprios
visitantes, quando souberam do desaparecimento do anão alquimista, atacaram o
palácio e ameaçaram a família real. Muitos acabaram por ser presos e foram
colocados nas masmorras do castelo. Foi então que, com grande malvadez, o chefe
da guarda do palácio, juntamente com oito dos seus mais fiéis seguidores,
resolveram revoltar-se para tomarem o poder da cidadela e passarem a controlar
o tesouro que Zebedeu deixou aos nossos reis. E tu já os conheces, João Miguel.
Estivemos sentados à mesa com eles. Mestre Tino é esse chefe e os seus
discípulos são Baltasar, Aroma e Amora, Medina, Judite, Isidoro e Belchior. O
grande buldogue aliciou o coronel-sapo para ele não dar voz de comando às
tropas na defesa da família real e a sala do tesouro foi facilmente tomada
pelos traidores. No dia seguinte, os reis Alberto e Alberta foram feitos
prisioneiros e lançados às masmorras.
João Miguel não quer acreditar nas palavras de
Esmeralda. A ser verdade o que lhe está a dizer, Belchior e o sargento-sapo
aliciaram-no para o fazerem prisioneiro. A sua simpatia era falsa e
interesseira. E dispara mais um conjunto de perguntas.
- É por isso que o coelho Belchior atrai os visitantes
à cidadela? Foi por isso que o sargento-sapo me ofereceu estas botas? Foi por
isso que me fizeram aquela estranha receção em Okatonga? Tudo isso para fazerem
de mim um prisioneiro? E porque me deste a beber a poção do encolhimento?
Porquê?
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