terça-feira, 19 de junho de 2012

ALBERTO E ALBERTA



15 de Junho de 2012

20 – ALBERTO e ALBERTA


João Miguel persegue Esmeralda correndo pela densa floresta de Okatonga. O menino não sente cansaço, nem fome, nem receio e não sente necessidade de continuar a correr. Nascem-lhe muitas perguntas para as quais necessita de respostas.
- Vou parar Esmeralda, para quê continuarmos a correr a esta velocidade? O meu pijama está cada vez mais rasgado e esta clareira é ótima para descansarmos um pouco.
A menina abranda e acaba por ceder a algum do cansaço provocado pela grande correria.
- Tens razão! A cidadela já está bem longe e não falta muito para chegarmos ao nosso destino. – concorda Esmeralda um pouco ofegante.
Para chegarmos ao nosso destino? – interroga o menino muito admirado – Mas que destino é esse de que falas? Eu ainda não consegui entender nada do que se tem passado desde que cheguei a este estranho lugar. Estou outra vez perdido na grande floresta e tenho uma montanha de perguntas para ti. Tens de me ajudar a compreender tudo o que aqui acontece. Afinal de contas, de quem é que andamos a fugir?
Esmeralda sabia que, mais cedo ou mais tarde, teria de explicar tudo ao menino de pijama e de botas de soldado, que está a ficar nervoso e impaciente.
- Acalma-te, vá lá, não fiques assim que não vale a pena. Senta-te aqui ao pé de mim que eu explico-te tudo.
João Miguel obedece e senta-se no fresco relvado em frente de Esmeralda que prepara o esclarecimento.
- Esta grandiosa floresta onde nos encontramos faz parte do grande círculo de proteção da cidadela de Okatonga. É um imenso labirinto que foi criado pelos governantes para impedir a fuga aos visitantes. Quando Zebedeu começou a fabricar os milagrosos e extraordinários bálsamos e poções, foi difícil impedir que a fama dos seus produtos chegasse aos povos vizinhos. Foram muitos os que começaram a chegar à cidadela e mais ainda os que destruíram partes importantes das nossas grutas e dos nossos vales. Muitos sujavam e danificavam a floresta para tentar alcançar Okatonga. Zebedeu não apreciava a publicidade e não gostou de ter de trabalhar mais para satisfazer as vontades e as necessidades de tanta gente. Eram tantos e tantos visitantes, alguns tão ricos, que tudo se modificou. De início ainda conseguiu trazer muita riqueza à cidadela, que cresceu em beleza e majestade e ganhou reconhecimento pelos atributos extraordinários da arte do anão alquimista. Mas tudo piorou. Os visitantes começaram a fazer filas aos milhares, filas que percorriam todas as ruas, ruelas, becos e avenidas da cidadela. Alguns ficavam dias e noites a aguardar a sua vez para serem atendidos por Zebedeu. O alquimista deixou de conseguir fabricar as poções para os habitantes de Okatonga. Um dia, fechou-se dentro de casa e os visitantes começaram a fazer muito barulho, ameaçaram partir as portas e as vidraças da casa de Zebedeu e acabaram a guerrear uns contra os outros. Foi nesse dia que o anão resolveu desaparecer para sempre. Mas antes de deixar de vez a cidadela, Zebedeu doou um grande tesouro, composto por milhares de frascos, garrafinhas, potes e boiões com as suas poções mais valiosas, aos nossos Reis Alberto e Alberta. E desde então, coisas muito estranhas começaram a acontecer.
João Miguel escuta atentamente as palavras de Esmeralda, e não consegue evitar mais perguntas:
- Mas então, se os reis de Okatonga são Alberto e Alberta, o que foi que lhes aconteceu para ser o Mestre Tino a mandar na cidadela?
Esmeralda ajeita as pernas para ficar mais confortável e continua a sua explicação:
- Essa oferta de Zebedeu aos nossos reis deu origem ao início da era da grande cobiça. Quadrilhas de malfeitores e de ladrões sem escrúpulos tentaram roubar o novo tesouro real vezes sem conta. Os próprios visitantes, quando souberam do desaparecimento do anão alquimista, atacaram o palácio e ameaçaram a família real. Muitos acabaram por ser presos e foram colocados nas masmorras do castelo. Foi então que, com grande malvadez, o chefe da guarda do palácio, juntamente com oito dos seus mais fiéis seguidores, resolveram revoltar-se para tomarem o poder da cidadela e passarem a controlar o tesouro que Zebedeu deixou aos nossos reis. E tu já os conheces, João Miguel. Estivemos sentados à mesa com eles. Mestre Tino é esse chefe e os seus discípulos são Baltasar, Aroma e Amora, Medina, Judite, Isidoro e Belchior. O grande buldogue aliciou o coronel-sapo para ele não dar voz de comando às tropas na defesa da família real e a sala do tesouro foi facilmente tomada pelos traidores. No dia seguinte, os reis Alberto e Alberta foram feitos prisioneiros e lançados às masmorras.
João Miguel não quer acreditar nas palavras de Esmeralda. A ser verdade o que lhe está a dizer, Belchior e o sargento-sapo aliciaram-no para o fazerem prisioneiro. A sua simpatia era falsa e interesseira. E dispara mais um conjunto de perguntas.
- É por isso que o coelho Belchior atrai os visitantes à cidadela? Foi por isso que o sargento-sapo me ofereceu estas botas? Foi por isso que me fizeram aquela estranha receção em Okatonga? Tudo isso para fazerem de mim um prisioneiro? E porque me deste a beber a poção do encolhimento? Porquê?

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