quinta-feira, 28 de junho de 2012

O CARVALHO CENTENÁRIO



28 de Junho de 2012

25 – O CARVALHO CENTENÁRIO


A luminosidade alaranjada do fim do dia faz adivinhar mais calor para amanhã. A lua, em quarto crescente, dança por entre as nuvens no céu de Okatonga.
O menino lembra-se como começou a história da mãe. A casa do anão está camuflada com muitas folhas, ramos, troncos esquecidos e pedras carregadas de musgo. Lembra-se que o anão não gosta de quase nada e tudo na floresta o incomoda. A única coisa que aprecia é a sua cara feia e um imenso espelho onde passa horas a admirar-se. Foi assim que a mãe lhe contou e é assim que João Miguel o imagina. Um rezingão mal cheiroso, mas também um sábio alquimista, tão inteligente como os mais famosos cientistas do mundo.
Se o anão incumbiu Esmeralda de o ajudar, é porque sabia que o João Miguel tinha chegado a Okatonga, mas como terá isso acontecido? Tantas perguntas, tantas interrogações. A maior de todas as dúvidas é esta que vai fazendo constantemente a si mesmo:
- Porque será que Zebedeu me considera assim tão importante? Porque é que eu sou tão importante para o anão alquimista?
Sem se aperceber, o menino fala alto. Esmeralda ouve-o e responde:
- A tua presença em Okatonga é um acontecimento importantíssimo! Ninguém aqui te pode fazer mal, João Miguel. Se alguma coisa te acontecer, Okatonga inteira poderá desaparecer e Zebedeu é o único de nós que sabe disso. Poe esse motivo, ele fez questão que eu te protegesse e te ajudasse.
Esmeralda e João Miguel descem pela encosta da pequena colina como se não estivessem cansados. É ali em baixo, junto ao grande castanheiro, que fica a entrada do domínio secreto de Zebedeu.
Os dois param junto ao grande carvalho centenário.
Zebedeu não recebe visitas de ninguém neste refúgio.
João Miguel olha para Esmeralda e entende que ele terá a honra de ser recebido pelo famoso anão alquimista.
- Vai, não tenhas receio. – diz-lhe a menina. – O grande tronco da árvore é oco. Entrarás nele por entre as suas imensas raízes e encontrarás um mal iluminado pátio, forrado a lajes de granito. Os teus olhos terão de habituar-se à penumbra e tu terás de descobrir a mais polida de todas as lajes. Colocarás as mãos em cima dela para pressionares o mecanismo de abertura. O chão abrir-se-á e surgirá uma escada apertada, em caracol. Terás apenas cinco segundos para começares a descer, caso contrário, o alçapão voltará a fechar-se e terás de esperar um dia inteiro para que o possas reabrir. Descerás com cuidado, vagarosamente e com cuidado. Ficarás zonzo quando estiveres a meio da descida. Terás de ter muita atenção ao desceres a escadaria. Só quando terminares de contar duzentos e vinte e dois degraus te encontrarás junto à porta de entrada da casa do anão Zebedeu. Aí fará frio, muito frio, e estará muito escuro também. Perderás a noção do espaço, escutarás ruídos estranhos e cheirará muito mal. Vais sentir-te perdido e abandonado pois ele demora muito tempo a abrir a porta. – explica Esmeralda.
- E ele saberá quando eu lá chegar? – pergunta o irrequieto João Miguel.
- Zebedeu sabe tudo aquilo que acontece em Okatonga. Não te preocupes que ele vai saber quando tu lá chegares. E agora já só me falta dar-te o último e mais importante dos conselhos. Aconteça o que acontecer, demore Zebedeu o tempo que demorar, promete-me que não sobes as escadas sem teres falado com o anão alquimista.
João Miguel olha para as raízes do grande carvalho antes de dizer sim a Esmeralda. Jura ter visto alguém ou alguma coisa a passar rapidamente por entre elas, ou talvez tenha sido apenas impressão.
- Viste, Esmeralda? O que é que se terá escondido debaixo das raízes da árvore? – pergunta o menino, desconfiado.
Esmeralda olha muito séria para ele, e volta a declarar, aumentando o tom da voz:
- Toma atenção ao que te estou a dizer e não te distraias, por favor! Promete-me que não sobes as escadas antes de conheceres e falares com Zebedeu! É importante que assim o faças.
- Sim, sim, eu prometo-te, Esmeralda, não te preocupes. Só voltarei a subir os degraus depois de falar com o anão alquimista.
E um sorriso de alívio renasceu no bonito rosto da menina.
- Então vai, faz como te disse e tudo correrá bem.
Esmeralda não espera para ver o João Miguel a desaparecer por entre as longas raízes do grande carvalho. Ela não quer que o amigo dê conta do que sente o seu coração.

Sem comentários:

Enviar um comentário