domingo, 24 de junho de 2012

PARAR O TEMPO



23 de Junho de 2012

23 – PARAR O TEMPO


Após ter ajudado o coelho Belchior a libertar-se da apertada teia de Dona Suzete, Esmeralda foi ter com João Miguel ao alto do velho carvalho. Os dois conseguem reconhecer-se, apesar do seu estado de invisibilidade. Os seus olhos vislumbram os corpos transparentes um do outro. Uma luz forte e esbranquiçada idêntica à dos pirilampos, ilumina-lhes os contornos e os cabelos.
- Se não nos tivéssemos tornado invisíveis, a grande aranha branca ter-nos-ia devorado. - diz Esmeralda com um profundo sentimento de alívio. - O efeito desta poção dura pouco tempo, por isso, foi importante fazer com que a grande aranha branca desaparecesse rapidamente para bem longe daqui.
João Miguel ainda sente no pescoço o bafo morno que saiu da boca do inseto. As pernas tremeram-lhe e, por instantes, até deixou de respirar.
- Eu fiz tudo o que me pediste, Esmeralda. Subi a este carvalho e atirei as pedras à aranha. Não sei como consegui trepar até aqui, estava tão nervoso.
Apesar de não conseguir ver o rosto nem o corpo da amiga, a aura luminosa dos seus contornos e a luz resplandecente dos cabelos tranquilizam João Miguel, que exclama:
- Parecemos seres estranhos de um filme de extraterrestres. E consigo cheirar e sentir tudo o que existe na floresta com maior intensidade. O ar está carregado de sabores e as palavras saem coloridas com as sete cores do arco-íris. Vejo por entre as copas e os troncos das árvores, escuto o canto de pássaros distantes e vejo, lá muito ao longe, o Belchior saltitante a ser perseguido pela Dona Suzete.
Esmeralda sorri.
- O que acontece com esta poção é que, enquanto estivermos sob o seu efeito, para além de estarmos invisíveis, o tempo não tem sobre nós qualquer poder e não envelhecemos um único segundo.
João Miguel gostaria de oferecer milhares de litros desta poção à sua mãe pois assim ela permaneceria sempre igual. Os frascos que Esmeralda transporta na sua sacola só podem mesmo ser poções do famoso Zebedeu, e o menino pergunta:
- É verdade, não é Esmeralda? As poções que me deste são criações do anão alquimista?
A menina abana afirmativamente a cabeça. Os seus longos cabelos luminosos bailam para cima e para baixo enquanto os efeitos da bebida começam lentamente a desaparecer. O cabelo é o que primeiro se torna visível, depois o rosto, depois o corpo e as pernas. Em seguida surgem os joelhos e os pés, finalmente os braços e as mãos, os dedos e o sorriso.
- Vês, o que é que eu te disse? O efeito desta poção é de curta duração, mas é muito útil em algumas circunstâncias. Não devemos abusar dele pois é um dos mais raros e difíceis de encontrar. Agora vamos, chega de conversa! O nosso destino está próximo, mas ainda temos algumas horas de caminho pela frente.
- De que destino fala Esmeralda? – pensa João Miguel para os seus botões.
Os efeitos da bebida ainda não lhe passaram, e ele continua a apreciar as cores fantásticas que pintam cada palavra da amiga, continua a sentir os perfumes sublimes de todas as plantas da floresta de Okatonga e continua a gozar essa rara e morna experiência que é a de não se sentir a envelhecer.

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