23 de Junho de 2012
23 – PARAR O TEMPO
Após ter ajudado o coelho Belchior a libertar-se da
apertada teia de Dona Suzete, Esmeralda foi ter com João Miguel ao alto do
velho carvalho. Os dois conseguem reconhecer-se, apesar do seu estado de
invisibilidade. Os seus olhos vislumbram os corpos transparentes um do outro.
Uma luz forte e esbranquiçada idêntica à dos pirilampos, ilumina-lhes os contornos
e os cabelos.
- Se não nos tivéssemos tornado invisíveis, a grande
aranha branca ter-nos-ia devorado. - diz Esmeralda com um profundo sentimento
de alívio. - O efeito desta poção dura pouco tempo, por isso, foi importante
fazer com que a grande aranha branca desaparecesse rapidamente para bem longe
daqui.
João Miguel ainda sente no pescoço o bafo morno que
saiu da boca do inseto. As pernas tremeram-lhe e, por instantes, até deixou de
respirar.
- Eu fiz tudo o que me pediste, Esmeralda. Subi a este
carvalho e atirei as pedras à aranha. Não sei como consegui trepar até aqui,
estava tão nervoso.
Apesar de não conseguir ver o rosto nem o corpo da
amiga, a aura luminosa dos seus contornos e a luz resplandecente dos cabelos
tranquilizam João Miguel, que exclama:
- Parecemos seres estranhos de um filme de
extraterrestres. E consigo cheirar e sentir tudo o que existe na floresta com
maior intensidade. O ar está carregado de sabores e as palavras saem coloridas
com as sete cores do arco-íris. Vejo por entre as copas e os troncos das
árvores, escuto o canto de pássaros distantes e vejo, lá muito ao longe, o
Belchior saltitante a ser perseguido pela Dona Suzete.
Esmeralda sorri.
- O que acontece com esta poção é que, enquanto
estivermos sob o seu efeito, para além de estarmos invisíveis, o tempo não tem
sobre nós qualquer poder e não envelhecemos um único segundo.
João Miguel gostaria de oferecer milhares de litros
desta poção à sua mãe pois assim ela permaneceria sempre igual. Os frascos que
Esmeralda transporta na sua sacola só podem mesmo ser poções do famoso Zebedeu,
e o menino pergunta:
- É verdade, não é Esmeralda? As poções que me deste
são criações do anão alquimista?
A menina abana afirmativamente a cabeça. Os seus
longos cabelos luminosos bailam para cima e para baixo enquanto os efeitos da
bebida começam lentamente a desaparecer. O cabelo é o que primeiro se torna
visível, depois o rosto, depois o corpo e as pernas. Em seguida surgem os
joelhos e os pés, finalmente os braços e as mãos, os dedos e o sorriso.
- Vês, o que é que eu te disse? O efeito desta poção é
de curta duração, mas é muito útil em algumas circunstâncias. Não devemos
abusar dele pois é um dos mais raros e difíceis de encontrar. Agora vamos,
chega de conversa! O nosso destino está próximo, mas ainda temos algumas horas de
caminho pela frente.
- De que destino fala Esmeralda? – pensa João Miguel para
os seus botões.
Os efeitos da bebida ainda não lhe passaram, e ele continua
a apreciar as cores fantásticas que pintam cada palavra da amiga, continua a sentir
os perfumes sublimes de todas as plantas da floresta de Okatonga e continua a gozar
essa rara e morna experiência que é a de não se sentir a envelhecer.
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