07 de Junho de 2012
18 – SEQUÓIA MÁGICA
A Esmeralda e o João Miguel levantam-se e ajudam o
sapo Renato a pôr-se de pé. Que cores bonitas tem este soldado. São as
favoritas do menino e encontram-se espalhadas pelo corpo verde lustroso de
Renato em dezenas de manchas brilhantes. Os seus olhos vermelhos de pupilas
negras faíscam na direção dos fugitivos.
- Mais uma vez, muito e muito obrigado pela vossa
amabilidade. Desculpem-me todo este incómodo, desculpem-me se vos assustei, mas
eu tinha de agradecer a gentileza do menino. E agradeço também a vossa cortesia
por me terem, novamente, ajudado a levantar. Muito e muito obrigado aos dois. –
diz Renato enquanto sacode o pó e a sujidade das suas roupas de soldado.
- De nada. Foi um prazer. – responde João Miguel. –
Agora temos mesmo de ir andando, não nos leves a mal, mas temos coisas muito
importantes para resolver e o tempo não para.
Esmeralda acena afirmativamente com a cabeça e reforça
as palavras do menino.
- Pois é! O tempo não para e nós temos coisas muito
importantes para resolver. Adeus Renato, até breve.
Sem mais demoras, a menina dá a mão ao João Miguel e
começam a correr em direção ao interior da floresta.
O sapo Renato observa-os enquanto eles desaparecem com
rapidez pelas sombras do denso arvoredo. Está parado a coçar o alto da sua
testa verde, está parado a pensar, a refletir, a decidir, e é então que
resolve:
- Olha, não é nada má ideia aproveitar esta ocasião!
Já que estou do lado de fora da grande muralha, vou correr e saltar na direção
da grande floresta como os dois meninos. Vou segui-los. Quem sabe talvez lhes
possa retribuir as amabilidades, talvez os possa vir a ajudar como eles me
ajudaram a mim.
Assim pensou e assim agiu.
Renato segue o rasto de João e Esmeralda através do coração
da floresta. Saltita de ramo em ramo, de tronco em tronco, de árvore em árvore,
saltita pelas pedras, por entre folhas, copas e arvoredos, saltita pelas
raízes, por cima de poças da água e de lama, por cima de rochas e penedos,
saltita com perícia e velocidade, saltita tanto e tão depressa que já
ultrapassou os dois meninos viajantes que desejava alcançar sem se ter apercebido.
O sapo está muitos quilómetros à sua frente bem no
interior de Okatonga, num local muitíssimo afastado da cidadela, muito afastado
de todas as orlas da floresta e muitíssimo afastado da entrada destruída da
gruta por onde o João Miguel aqui entrou. O sapo Renato acaba de chegar ao mais
remoto lugar da floresta de Okatonga sem disso ter dado conta.
CORAÇÃO ESCONDIDO da FLORESTA encontra-se pintado em
letras brancas mal desenhadas numa placa de madeira velha e carunchosa.
- Cheguei! Estou no mais sombrio e afastado lugar de
toda a floresta. O melhor é aproveitar a ocasião. Vou subir ao topo mais alto
da árvore mais alta para apreciar a paisagem. Quem sabe se lá de cima não
consigo descobrir os meninos, quem sabe!
Assim pensou e assim agiu.
O sapo trepa a mais alta das sequoias para poder
apreciar as bonitas paisagens que se veem lá do cimo e para tentar encontrar os
dois caminhantes. Trepa pelo espesso e gigantesco tronco com perícia e rapidez,
trepa tanto e tão depressa que as suas patas começam a ganhar bolhas e as
pernas ficam cansadas. Trepa tanto e com tanta vontade que não entende porque
ainda não chegou ao alto da imensa sequoia. Quanto mais depressa sobe, mais
alta ela fica, quanto mais bolhas lhe rebentam nas patas, mais alta ela fica,
quanto mais cansadas sente as pernas, mais alta a sequoia fica. É um mistério!
- Esta árvore é mágica! Só pode ser uma árvore mágica
com poderes misteriosos. – exclama Renato muito desalentado.
Abatido, cheio de dores e vencido pela dificuldade da
tarefa, o sapo resolve começar a descer. Assim que dá os primeiros passos, uma
voz metálica e estridente começa a perguntar:
- Quem és tu e o que fazes aqui?
O sapo para e responde:
- Onde estás? Será que és invisível? Aparece, tenho
muito gosto em te conhecer mas não te consigo ver.
É então que uma grande aranha branca com olhos de
cristal aparece, muito luminosa, por detrás do grosso tronco da sequoia.
- Quem és tu e o que fazes aqui? – pergunta de novo o
brilhante inseto num tom de voz mais enervado – Não aprecio visitas, não gosto
que alguém se atreva a subir e me perturbe o descanso. A última vez que isso
aconteceu foi há uma dúzia de anos quando um ouriço insolente resolveu
incomodar-me.
A língua de Renato está seca e colou-se ao
céu-da-boca.
O sapo está petrificado de medo e não se consegue
mexer.
Sem comentários:
Enviar um comentário