sábado, 9 de junho de 2012

SEQUOIA MÁGICA



07 de Junho de 2012

18 – SEQUÓIA MÁGICA


A Esmeralda e o João Miguel levantam-se e ajudam o sapo Renato a pôr-se de pé. Que cores bonitas tem este soldado. São as favoritas do menino e encontram-se espalhadas pelo corpo verde lustroso de Renato em dezenas de manchas brilhantes. Os seus olhos vermelhos de pupilas negras faíscam na direção dos fugitivos.
- Mais uma vez, muito e muito obrigado pela vossa amabilidade. Desculpem-me todo este incómodo, desculpem-me se vos assustei, mas eu tinha de agradecer a gentileza do menino. E agradeço também a vossa cortesia por me terem, novamente, ajudado a levantar. Muito e muito obrigado aos dois. – diz Renato enquanto sacode o pó e a sujidade das suas roupas de soldado.
- De nada. Foi um prazer. – responde João Miguel. – Agora temos mesmo de ir andando, não nos leves a mal, mas temos coisas muito importantes para resolver e o tempo não para.
Esmeralda acena afirmativamente com a cabeça e reforça as palavras do menino.
- Pois é! O tempo não para e nós temos coisas muito importantes para resolver. Adeus Renato, até breve.
Sem mais demoras, a menina dá a mão ao João Miguel e começam a correr em direção ao interior da floresta.
O sapo Renato observa-os enquanto eles desaparecem com rapidez pelas sombras do denso arvoredo. Está parado a coçar o alto da sua testa verde, está parado a pensar, a refletir, a decidir, e é então que resolve:
- Olha, não é nada má ideia aproveitar esta ocasião! Já que estou do lado de fora da grande muralha, vou correr e saltar na direção da grande floresta como os dois meninos. Vou segui-los. Quem sabe talvez lhes possa retribuir as amabilidades, talvez os possa vir a ajudar como eles me ajudaram a mim.
Assim pensou e assim agiu.
Renato segue o rasto de João e Esmeralda através do coração da floresta. Saltita de ramo em ramo, de tronco em tronco, de árvore em árvore, saltita pelas pedras, por entre folhas, copas e arvoredos, saltita pelas raízes, por cima de poças da água e de lama, por cima de rochas e penedos, saltita com perícia e velocidade, saltita tanto e tão depressa que já ultrapassou os dois meninos viajantes que desejava alcançar sem se ter apercebido.
O sapo está muitos quilómetros à sua frente bem no interior de Okatonga, num local muitíssimo afastado da cidadela, muito afastado de todas as orlas da floresta e muitíssimo afastado da entrada destruída da gruta por onde o João Miguel aqui entrou. O sapo Renato acaba de chegar ao mais remoto lugar da floresta de Okatonga sem disso ter dado conta.
CORAÇÃO ESCONDIDO da FLORESTA encontra-se pintado em letras brancas mal desenhadas numa placa de madeira velha e carunchosa.
- Cheguei! Estou no mais sombrio e afastado lugar de toda a floresta. O melhor é aproveitar a ocasião. Vou subir ao topo mais alto da árvore mais alta para apreciar a paisagem. Quem sabe se lá de cima não consigo descobrir os meninos, quem sabe!
Assim pensou e assim agiu.
O sapo trepa a mais alta das sequoias para poder apreciar as bonitas paisagens que se veem lá do cimo e para tentar encontrar os dois caminhantes. Trepa pelo espesso e gigantesco tronco com perícia e rapidez, trepa tanto e tão depressa que as suas patas começam a ganhar bolhas e as pernas ficam cansadas. Trepa tanto e com tanta vontade que não entende porque ainda não chegou ao alto da imensa sequoia. Quanto mais depressa sobe, mais alta ela fica, quanto mais bolhas lhe rebentam nas patas, mais alta ela fica, quanto mais cansadas sente as pernas, mais alta a sequoia fica. É um mistério!
- Esta árvore é mágica! Só pode ser uma árvore mágica com poderes misteriosos. – exclama Renato muito desalentado.
Abatido, cheio de dores e vencido pela dificuldade da tarefa, o sapo resolve começar a descer. Assim que dá os primeiros passos, uma voz metálica e estridente começa a perguntar:
- Quem és tu e o que fazes aqui?
O sapo para e responde:
- Onde estás? Será que és invisível? Aparece, tenho muito gosto em te conhecer mas não te consigo ver.
É então que uma grande aranha branca com olhos de cristal aparece, muito luminosa, por detrás do grosso tronco da sequoia.
- Quem és tu e o que fazes aqui? – pergunta de novo o brilhante inseto num tom de voz mais enervado – Não aprecio visitas, não gosto que alguém se atreva a subir e me perturbe o descanso. A última vez que isso aconteceu foi há uma dúzia de anos quando um ouriço insolente resolveu incomodar-me.
A língua de Renato está seca e colou-se ao céu-da-boca.
O sapo está petrificado de medo e não se consegue mexer.

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