terça-feira, 6 de novembro de 2012

FORÇA AÉREA



05 de Novembro de 2012

51 – FORÇA AÉREA

Três escaravelhos surgem, de repente, da floresta mais profunda, e avançam com rapidez para perto de Dona Beatriz e do João Miguel.
Esmeralda reage de imediato, salta-lhes para cima e esmaga-os com os pés:
- Detesto estes bichos nojentos e o barulho que fazem quando os pisamos. Vocês têm de ir-se embora, e depressa, que eu não os consigo esmagar a todos.
A menina esmigalha os escaravelhos que aparecem, só que eles são em cada vez maior número e começam a invadir o local onde os amigos se encontram. Renato também salta para cima dos bichos rastejantes.
O barulho que fazem ao serem pisados mistura-se com o ruído dos bandos, mistura-se com os sons estridentes e tresloucados do ministro Isidoro, mistura-se com o compasso ritmado da marcha dos soldados-sapo e mistura-se com o bater das asas da coruja Beatriz a levantar voo com o menino às costas.
- ESMERALDA, RENATO, OLHEM PARA MIM! ESTOU AQUI EM CIMA! ESTOU A VOAR! A DONA BEATRIZ PEGOU EM MIM, COLOCOU-ME NAS SUAS COSTAS E LEVANTOU VOO!
- O sapo e a menina não conseguem dizer-lhes adeus pois a multidão de escaravelhos invadiu por completo a pequena clareira pintando a relva de um preto lustroso.
- DONA BEATRIZ, DONA BEATRIZ, DEIXEI DE VER A ESMERALDA E O RENATO! DEVEM ESTAR EM PERIGO, JÁ SÓ VEJO INSETOS A TOMAR CONTA DA CLAREIRA!
A grande coruja voa para longe dali, afasta-se com ligeireza e transporta o João Miguel para um lugar seguro. Voa, sempre a subir, até que se junta aos bandos que a aguardam.
- Não te preocupes, João Miguel, vou agora dar ordens a todos os pássaros para que ataquem os ministros, a aranha Suzete, os escaravelhos insuportáveis e as tropas do coronel-sapo. Eles não fazem ideia nenhuma do que lhes vai cair em cima.
A impressionante nuvem de pássaros cresce assustadoramente, e prepara-se para dar cumprimento às ordens de Beatriz.
Os bandos de todas as espécies rodopiam como um furacão embrutecido e descem dos céus com um único propósito - derrotar os invasores mal-intencionados.
Os pássaros fazem voos rasantes pelas cabeças dos soldados-sapo causando uma barafunda generalizada. O coronel-sapo não sabe o que fazer. Resolve saltar o mais alto que consegue e é abocanhado por um falcão peregrino que o eleva a grande altura antes de o largar no vazio.
O caos e a desordem instalam-se nas tropas invasoras e os ministros entram em pânico. Aroma e Amora abraçam-se, de focinho franzido, corpo eriçado e os olhos apavorados. Resolvem fugir o quanto antes, e seguem o coelho Belchior e o gato Medina, que agita as patas no ar em todas as direções. Vai repelindo os atacantes que lhe põem a cabeça à roda. Dona Suzete não arrisca ficar mais tempo em terreno aberto. Um pássaro apanhá-la-ia com grande facilidade, e ela resolve esconder-se dentro da primeira toca que encontra no chão húmido de Okatonga. Não pretende sair de lá nos tempos mais próximos. A raposa Judite e o porco Baltasar lutam, enquanto podem, contra esta força dos céus, mas abalam a correr quando as águias picam. Os dois conseguiram ferir mais de uma dezena de pássaros antes de fugir.
O macaco Isidoro é o único que resiste aos pássaros por mais alguns minutos. Berra, salta, pula, esbraceja como um desalmado e distribui estaladas ao sabor do vento. Algumas acabam por atingir os pássaros que tombam feridos pelos golpes do ministro. Ele sobe às árvores, salta de umas para as outras com mestria enquanto distribui estaladas e pontapés ao desbarato. Os seus gestos são desconcertantes. Ao terminar mais uma das suas piruetas, o macaco dá meia-volta e desaparece aos guinchos para o interior da floresta.
Os escaravelhos espalham-se, cada um para o seu lado, mal a nuvem de pássaros começa a descer das alturas. Renato e Esmeralda reaparecem no meio da clareira e dançam até que o último dos escaravelhos é esmigalhado.
A coruja Beatriz segue a caminho da cidadela de Okatonga, onde todos aguardam a chegada de João Miguel, que tem de cumprir a sua missão.
O menino está feliz, saboreia o voo às costas da majestosa Dona Beatriz, que conhece os céus de Okatonga como ninguém.

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