28 de Novembro de 2012
57 – À PORTA DO FAROL
A inesperada aparição
de Belchior deixa o João Miguel inquieto.
Como terá o coelho
conseguido chegar aqui tão depressa?
As tropas do
coronel-sapo foram derrotadas com a ajuda das forças aéreas de Dona Beatriz, e
os ministros encontram-se muito distantes. Estão afastados da capital nas
profundezas da floresta de Okatonga, bem perto do grande lago negro de Dom
Raimundo. Nem mesmo dando uso a toda a sua rapidez, o coelho conseguiria
regressar à cidadela num tão curto espaço de tempo.
O menino está
convencido que tudo não terá passado de uma simples miragem motivada pelo
cansaço.
- Tenho de subir o
farol para salvar os reis de Okatonga.
A extensa e larga
avenida convida ao passeio. Converge desde o lago até um portão de ferro junto
ao qual se ergue o imenso farol.
Os passeios ao longo da
alameda são bastante largos e contêm dezenas de candeeiros e muitas árvores
frondosas. Ao meio da via, intercaladas por meia centena de metros,
encontram-se seis calçadas esguias, cada uma com quatro palmeiras altíssimas,
transmitindo a bizarra sensação de que a avenida está sempre a crescer.
O menino anda pela via
uma boa meia hora até conseguir chegar perto do farol. O rosto muda com o
espanto causado pela imensa construção cilíndrica.
- ENA PÁ! O farol deve
ter uns duzentos metros de altura! E esta estrutura de pedra que o suporta não
terá menos de cinco. Os degraus que subo estão como novos, todos em laje, e
esta porta de entrada é colossal, construída em madeira maciça. Reparo que não
tem nenhum tipo de fechadura, nenhuma maçaneta, nem campainha nem qualquer
abertura.
O edifício é colossal,
e encontra-se tão limpo e tão radioso como se o tivessem acabado de pintar.
- QUE LINDO! É mesmo
bonito! E este jardim de Okatonga não seria o mesmo sem este monumento
espantoso. Pena é que o Mestre Tino se tenha lembrado de o transformar numa
prisão. Mas que ideia sinistra a do buldogue ditador.
Sem mais demoras, o
menino bate na porta e empurra-a, tentando abri-la com estes gestos simples.
A entrada permanece
fechada.
- Que porta invulgar,
sem fechadura, sem campainha nem sino para tocar! Mestre Tino deve ter inventado
este sistema de clausura para trancar para sempre os reis de Okatonga. Mas que mente
tão diabólica.
Do alto da construção, as
vozes continuam a lançar aos ventos apelos impacientes:
- Aqui em cima! É aqui em
cima, no alto do farol, que terás de nos vir salvar!
O menino olha para o topo
da estrutura e pensa em voz alta:
- É impossível chegar até
lá acima pelo lado de fora. Que bom seria se eu fosse uma coruja como Beatriz, e
tivesse asas para voar. Seria fácil e rápido. Assim, não me resta outra alternativa
que não seja a de tentar abrir a porta. Mas como fazê-lo se não existe nenhuma fechadura
ou ranhura?
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