sexta-feira, 11 de maio de 2012

TRANSFORMAÇÃO




11 de Maio de 2012

11 – TRANSFORMAÇÃO


Okatonga está silenciosa.
As pessoas olham para o João Miguel em silêncio, como estátuas, enquanto ele caminha pela grande avenida da cidadela.
Subitamente, algo muito estranho acontece.
Sem que nada o fizesse prever, a vila de Okatonga oscila de um lado para o outro. Os passeios começam a aproximar-se e aquela que ainda agora era uma larga avenida, passou a ser uma rua estreita e apertada, apinhada de gente pequena a movimentar-se desordenadamente junto às botas do João Miguel.
Os edifícios também se movimentam, acompanhando o ritmo dos passeios. Torna-se impossível avançar, torna-se impossível saber por onde correu Belchior.
Okatonga está viva como vivas estão as suas ruas. Elas avançam e recuam. Os edifícios mais pequenos crescem e os mais altos diminuem e ficam mais pequenos. Outros edifícios seguem atrás das ruas e mudam a sua posição.
Os habitantes da cidadela começam a correr para dentro das casas antes que elas se transformem de vez.
As ruas ficaram desertas num instante mas continuam a dançar.
Há casas que tocam nas pernas do João Miguel quando se encolhem e se esticam, quando crescem e avançam e rodam e se alargam. A vila de Okatonga não para de se transformar.
O João Miguel tenta descobrir algum sinal do saltitante Belchior, mas sem sucesso.
O coelho partiu para procurar o Mestre Tino e tudo em Okatonga se transformou desde que ele pronunciou esse nome.
- Para onde terá ido o Belchior? – pergunta o João Miguel. - E porque se mexe assim tanto esta vila? A história nova da mãe é muito estranha. Casas antigas que sobem e descem, ruas estreitas que encolhem ainda mais, outras que crescem e outras que se entortam, gatos embirrentos e todas estas pessoas do tamanho da Esmeralda a desaparecer num abrir e fechar de olhos. Não foi isto que pedi ao saco invisível da mãe. Estou com sede e com fome, sinto a barriga a dar horas. O pudim da festa do jardim do Belchior ia saber-me tão bem!
O João Miguel dormiu mal esta noite, está com fome, está cansado e a cidadela continua a transformar-se.
- JOÃO MIGUEL!!! JOÃO MIGUEL!! ANDA POR AQUI!!! Depressa, antes que o Mestre Tino e o Belchior apareçam! – Grita Esmeralda junto à porta vermelha de uma casa branca com pilares de madeira escura a enfeitar a fachada.
A porta é pequena demais para o menino entrar. Esmeralda tem consigo um novo frasco, mais pequeno que o anterior, que entrega ao João Miguel:
- Vá, bebe isto tudo rapidamente e de um só trago. Não tenhas receio.
O menino seguiu as instruções.
Mal a primeira gota da poção toca os seus lábios, o corpo estremece. Depois de beber tudo conforme lhe foi dito, começa a encolher, a encolher, a encolher, a encolher, até que fica do mesmo tamanho de Esmeralda. Ela agarra-o imediatamente pelo braço e puxa-o vigorosamente para dentro da casa da porta vermelha.
Lá dentro espera-o uma sala escura, quase tão escura como a gruta que atravessou para chegar ao mundo de Okatonga.

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