quinta-feira, 24 de maio de 2012

PANCADARIA



22 de Maio de 2012

15 – PANCADARIA


O macaco Izidoro leva o copo de leite à boca e salta-lhe metade do líquido para o corpo, tal é a sua sofreguidão.
O porco Baltazar fica todo molhado com o leite que Izidoro derrama para cima de si. Grunhe de descontentamento e cospe uma nuvem de migalhas para a cara do macaco que logo lhe puxa o focinho.
A raposa Judite aproveita a ocasião para retirar as bolachas dos pratos de Izidoro e de Baltasar. Ela tem muita fome e como eles estão mais preocupados em guerrear do que em comer, assim procede.
Aroma e Amora lançam olhares enfurecidos à raposa enquanto ela mastiga as bolachas que acabou de furtar. Com a boca cheia, retribui aos gatos siameses olhares trocistas e provocadores.
Quem permanece alheio a toda esta barafunda é o gato Medina que bebe o leite e mastiga a sua última bolacha com toda a delicadeza. Depois de terminar a refeição, limpa os cantos da boca e os longos bigodes grisalhos e observa a luta entre o porco e o macaco que se vão mordendo com ferocidade.
O Mestre Tino sorri de satisfação, palita os dentes com um pequeno garfo de prata e para melhor acompanhar a briga, coloca as patas em cima da mesa que vai servindo de ringue.
- Então, o que estão a achar do combate? Com o Izidoro nunca há monotonia. Não existe ninguém como ele em toda a Okatonga! Nunca nos deixa ficar mal. Comam e bebam à vontade, não façam cerimónia! Enquanto o bolo de chocolate recheado não chega, entretenham-se com umas bolachinhas e com o leite fresco acabado de ordenhar.
O duelo entre o macaco e o porco faz com que as travessas, os pratos, os talheres e os copos voem pelo salão derramando leite por todo o lado.
Izidoro e Baltasar lutam com fervor, usam tudo o que encontram em cima da mesa como armas de arremesso. Aroma e Amora descem das cadeiras e lambem o leite entornado no chão. A raposa Judite entretém-se a limpar o seu focinho delgado que está semeado de migalhas. A longa e aguçada língua executa a tarefa na perfeição.
João Miguel e Esmeralda estão sentados ao lado de Mestre Tino, em duas cadeiras de pernas muito altas e esguias. O buldogue continua divertidíssimo a lançar sonoras gargalhadas e a bater com as duas patas na mesa. O combate ganha tamanha violência que duas bandejas escapam das mãos do Izidoro e atingem com força a cabeça do Medina e do coelho Belchior. Esse golpe era dirigido ao porco Baltasar que se diverte imenso com a situação. O gato-guarda salta para cima do macaco e arranha-lhe a cara bufando sem piedade. Belchior tomba para o meio do chão com um imenso galo no meio da testa cinzenta.
O salão está literalmente virado do avesso! No meio desta enorme confusão, os três animais derrubam a caixa dourada em forma de escaravelho que o Mestre Tino mantinha à sua frente, fazendo-lhe saltar a tampa. Os insetos rastejantes recomeçam a sair do seu interior e invadem o salão. Passeiam pelo leite derramado, pelas línguas de Aroma e Amora, pelas suas pernas magras e pelos seus bigodes. Esmeralda não se consegue controlar e salta da cadeira para dançar no soalho a sua coreografia predileta, repetindo vezes sem conta a estranha lengalenga:
- Detesto estes bichos nojentos e o barulho que fazem quando os pisamos. Detesto estes bichos nojentos e o barulho que fazem quando os pisamos.
A raposa Judite, o Mestre Tino e o João Miguel são agora os únicos sentados à mesa. Um cheiro intenso e delicioso começa a invadir o salão vindo da salinha ao lado. É tão agradável, tão perfumado que até os insetos param para o inalar.
- Delicioso! Absolutamente delicioso! – exclama Mestre Tino com água na boca. – Tal e qual o João Miguel gosta. Está recheado com um aveludado chocolate derretido que nos faz chorar por mais. Sirvam-nos lá de uma vez essa soberba iguaria para que possamos terminar o nosso esplêndido pequeno-almoço! – ordena o grande buldogue muito satisfeito.

Um, dois, três, quatro, semeada a trapalhada
Cinco, seis, sete, oito, com a valente pancada
            Nove, dez, onze, doze, tenho a cabeça abalada

Um, dois, três, quatro, de olhar esbugalhado
Cinco, seis, sete, oito, o Belchior, que é coelho
            Nove, dez, onze, doze, esmagou um escaravelho

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